A catarse do vazio: o caso Uniban ou caso Geisy?

Por Sérgio Pires
A estudante Geisy Arruda ao ser expulsa da Uniban coloca a faculdade no mesmo balaio dos alunos que a insultaram, como uma catarse coletiva, passando a garota de vítima como a culpada dos fatos que aconteceram no último dia 22 de outubro. Parte da mídia ou da opinião pública pode até dizer que a aluna tem parcela de culpa, quando de fato não tem. O caso da garota pode ser avaliado por uma questão simples: identidade.

Ciampa (1984) afirma que “no seu conjunto, as identidades constituem a sociedade, ao mesmo tempo em que são constituídas, cada um por ela”. Cada indivíduo, dentro da sociedade na qual faz parte se constitui através das relações sociais, assume identidade pessoal em sua história de vida. Tanto os indivíduos quanto a sociedade estão sempre interligados.

Dessa forma, o vestuário é fundamental para a constituição desta identidade, pois é um canal de comunicação aceito por todos. A forma de se vestir pode ser uma representação da identidade, pois de acordo com Hall (2005) de um lado nos diferencia, marca a individualidade e, por outro, nos iguala e também nos confunde dentro de um grupo.

Hall afirma que a identidade ao mesmo tempo muda de acordo com a forma como o sujeito é interpretado ou representado. Dessa forma, Geisy nada mais fez do que se expressar através da roupa, pois sua indumentária é uma forma de comunicar, faz parte de sua identidade. Hall relata que esse processo é às vezes descrito como constituindo uma mudança de uma política de identidade de classe para uma política de diferença.

De acordo com Hall, esta identidade pode ser positiva ou negativa, ganhada ou perdida. Porém, quando compararmos aos fatos que aconteceram com a estudante, ela não só perdeu a identidade, mas sim, a tiraram, ou seja, ao ser expulda, sua identidade foi roubada.

A nota divulgada pela Uniban no último domingo (08) nos grandes jornais de São Paulo, relata que a estudante “tem freqüentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade...” Se, ao partir da lógica de Hall sobre identidade e sobre a afirmação do posicionamento da Uniban, a aluna não tem uma identidade de acordo com seus padrões. Ou seja, revelou aí uma INTOLERÂNCIA grave.

Todos têm o direito de se expressar, seja através das artes, da música ou da moda. Mesmo que ela choque, é preciso ter tolerância e respeitar as diferenças. Nos anos 60 a estilista inglesa Mary Quant inventou a mini-saia ao cortar o vestido de uma manequim e, o impacto surtiu um efeito que foi além da moral, mas sim político e influenciaria toda a juventude dos anos 60 por chocar os padrões de conduta. A mini-saia subverteu o moralismo tradicionalista imposto às mulheres. Antes o modelo da mulher era doméstica, dona de casa e submetida ao marido.

Nessa mesma época, a geração bay-boom do pós-guerra atinge a adolescência e rompe os arquétipos morais e ideológicos que moldaram as mentalidades e os costumes das épocas passadas. A música, o corpo e o vestuário, serviam para compor a identidade e para alcançar objetivo de “protestar”. O rock então surge com seu ritmo considerado do diabo com uma dança lasciva e proibida de Elvis com suas roupas justas e contra os “bons costumes”, porém isso serviu de armas emancipadoras pela liberdade de costumes e idéias que se prolongaram pelos anos seguintes.

Se as pessoas não puderem se expressar através da roupa, em um ambiente universitário, por ser subversiva. Logo serão proibidas as idéias ou qualquer outro tipo de manifestação que fere os padrões impostos. Porém, o exemplo mal dado pelos alunos da Uniban, assim como da diretoria de expulsar a estudante coloca em cheque o papel universitário e faz questionar sobre o pensamento da atual juventude e sobre a identidade do jovem contemporâneo. Afinal, é na universidade o local onde as idéias acontecem através das artes, da literatura, da sociologia, entre outras áreas e, até mesmo da moda através da forma de se vestir.




Bibliografia

CIAMPA, A. Costa. “ Identidade ”. In: Psicologia Social. O homem em movimento. Organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo. São Paulo, Brasiliense, 1984.

Hall, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade / DP&A, 11ª Edição 2006

Fashion Bubbles> A invenção da mini-saia>. Disponível em < http://www.fashionbubbles.com/2006/a-invencao-da-mini-saia/> Acesso em: 9 novembro de 2009.



2 comentários:

Claudio Sokz disse...

O caso Uniban mostra o quão primitivas ainda são as relações em terras tupiniquins. De que adianta um presidente "crustáceo' sentar-se com a rainha, se os súditos de sua "monarqueta" ainda sentam-se com Átila? Reflexo de uma falsa cultura? Reflexo de uma falsa progressão continuada? Exemplo dado pelos detentores de um suposto poder? Enfim...Carpe diem!

Filosofâncias disse...

Muito bom o texto e interessante ponto de vista. Muito obrigado pelas referências.