O rock morreu? Se não faleceu, está agonizando há tempos

O jornalista e critico musical André Forastieri lançou recentemente o livro “O Dia em que o Rock Morreu”. Não li a abra, mas já de antemão concordo plenamente com o título. O rock em sua origem “real” não existe mais. O termo permanecerá, pois sempre existirá e surgirão boas bandas e artistas, pois o “rock” deixou de ser “gênero” para ser “estilo” para ser vendido.
O rock nasceu lá em meados dos anos 50 com in fluência pesada de artistas que cantavam blues nos anos 40. Explodiu com Elvis Presley que o popularizou e escandalizou o mundo com sua dança e sua música. Mas, não foi ele sozinho, já havia uma cena acontecendo, dezenas de artistas estavam cantando e fazendo este tipo de música, graças a Adolf Rickenbacker, que introduziu captadores elétricos nos violões e em seguida produziu a guitarra no final dos anos 30 e, nos anos 50, este instrumento seria a chave para alavancar o rock.
Mas, não era só isto. O mundo pós-guerra estava confuso. Os jovens do final dos anos 50 temiam por uma terceira guerra mundial. A Europa estava se reconstruindo; os Estados Unidos ainda tinha as marcas do racismo e a guerra fria contra a União Soviética se acentuava; as mulheres e os negros lutavam pelos seus direitos e as drogas surgiram como uma concepção “religiosa” para  alcançar o “nirvana” e fazer “viagens transcendentais”. O mundo começa a ficar pop com a popularização da televisão e dos programas de auditório como o de Ed Sullivan e era preciso “entretenimento” e o rock era um bom produto.
Aquela coisa suja, contestada já por todos, é representada por um “bom moço”, oriundo de família Batista. Em sua primeira aparição na televisão Elvis Presley canta uma música gospel no programa de Ed Sullivan (https://www.youtube.com/watch?v=_PkUGDFLaUE), ganha corações das meninas e do público, mas ainda sim, o rock estava completamente ligado à transgressão da sociedade completamente conservadora.
Nos anos 60 o rock se consolida ainda mais com os Beatles e o surgimento de centenas de bandas e o festival Woodstock consagra de vez o rock como um modo de vida. O movimento hippie, “faça amor, não faça a guerra”, “sexo, drogas e rock and roll” eram comuns, pois o contexto social era diferente. Acreditava-se que a música, por meio do rock, seria capaz de mudar o mundo e mudar o comportamento das pessoas.
Com o passar do tempo, veio ainda o movimento punk, pós-punk, entre outros estilos que pregava um modo de viver. A música era a chave deste “sonho”, o termo “roqueiro” propiciava uma identidade ao jovem, que não era “nada”, apenas um estudante com um futuro incerto. Ser “roqueiro” significava que era contra o status quo da sociedade. Era também uma posição política, mesmo nunca tendo votado ou se interessado pelas notícias do dia a dia.
Nos anos 80 Bono Vox e seu U2 acreditava que a música poderia levar a paz e de mudar o mundo. Eu, quando adolescente, também acreditei nisto, conversava horas com meu amigo Élcio Paulo, que era fã do U2 e, com meu primo Claudio Sokz, que o rock ou as músicas poderiam mudar o estilo de vida das pessoas. Renato Russo cantava: “... Somos soldados, Pedindo esmola. A gente não queria lutar...”; A banda Ira cantava: “... Eu tentei fugir não queria me alistar, Eu quero lutar, mas não com essa farda...”
Entre outras dezenas de canções que carregavam em si, a alma do gênero.
Ainda nos anos 80, Morrissey dos Smiths era completamente contra o termo “British rock”, para ele, os Smiths era apenas uma banda pop, pois o rock já havia morrido. Se Moz estava certo ou não, nos anos 90 o rock em sua essência ressurgiu com o Nirvana e toda a galera de Seattle. O legal, é que a cena já estava acontecendo com o Soundgarden, Pearl Jam, Alice Chains, entre outras bandas, que já estavam tocando e o Nirvana apareceu para a mídia como um “porta-voz” de toda a galera.
Os jovens dos anos 90 ainda  merecem um estudo especial, pois era o princípio da mudança de vários paradigmas. Muito daquilo que os jovens buscavam décadas anteriores tinham sido conquistado nos anos 90, o filme “O segredo do Meu Sucesso”, de 1987, diz um pouco disto. Muitos padrões estavam mudando e novas drogas apareceram. Filmes como Trainspotting, de 1996, de Danny Boyle, baseado em livro homônimo de Irvine Welsh, retrata como os jovens desta década viviam. Outro filme importante é Singles, no Brasil “Vida de Solteiro”, de 1992, que mostra o estilo de vida dos jovens de Seattle, berço do movimento grunge. O interessante é que o cenário estava pronto para uma revolução, o estilo de vida daqueles jovens denunciava que algo tinha que acontecer, e o grunge é um pouco disto.
Desde então, a evolução tecnológica, o acesso à informação, a facilidade do marketing “do your self”, “do it”, fez com que as grandes gravadoras não investissem mais e novos talentos. Todos podem produzir e fazer música. O fim dos discos de vinil e dos CDs e as músicas na internet, também enfraquecem a cultura das lojas de discos, que faliram.

Hoje tudo é na hora, com apenas um clique no celular ou no computador e a música já não “salva o mundo” e todos os jovens sabem disto, mesmo o Bono Vox é claro. O rock em sua essência não tem mais a mesma semântica. É apenas um estilo para alguns e para os mais jovens ainda, “é coisa de velho”. Boas bandas sempre existirão, roqueiro que toma Coca-Cola ou cerveja em shows como eu, sempre existirão. Mas aquele rock de Iggy Pop, Stones, Led Zeppelin... Morreu... De vez em quando suspira por meio de uma Amy Winehouse aqui, e outra alí.

Lowdown

Um dos maiores clássicos da música pop com um groove-soul sensacional, com leves pitadas de guitarras e um vocal sensacional é do guitarrista pouco conhecido no Brasil, chamado William Royce Boz Scaggs, mais conhecido como "Boz Scaggs". O cara tem 20 álbuns gravados, desde os anos 60,  e passeia pelo blues, rock, funk... O cara é bem versátil e toca muito. Seu maior clássico é Lowdown que não canso de ouvir em suas mais variadas versões. Separei algumas sensacionais.
Boz Scaggs ao vivo no Japão em 1973

 

Mario Biondi, Incognito e Shaka Kan
  

Darryl Hall e Chromeo
  

Uma pausa to take a picture...

Durante a milhares de foto na Colação de Grau Solene da FAENG no Clube Atlético Aramaçan, uma pequena pausa para uma foto com a Bianca e Marlu, que insiste em fechar os olhos em todas as fotos que tira.