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A barata

Tudo aconteceu naquela noite. Os desejos estavam no esgoto. Foi quando uma música invadiu o ouvido. Era um blues. O pé da mesa não dava equilíbrio ao copo que teimava em derrubar a vodka. E já era a quarta dose. As pessoas a olhavam meio que... Cismadas com algo e podiam questionar: “Como uma mulher tem coragem de ficar sozinha neste lugar”. Não ligava. Assédio era constante. “Posso sentar com você?” “Não!”. Respostas secas sem pensar, magoar ou não, tanto faz. Se distraia olhando os quatro cantos da parede. Arquitetura rústica, vidros, quadros, garrafas, aquários com cobras mortas. Gostava do barulho... Risadas, cochichos, gargalhadas, conversas sobre amantes, conversas sobre amores, conversas sobre futebol, conversas sobre política, discussões e falações. Em um momento seu olhar se prende a uma barata que estava no corredor esquerdo, próximo do banheiro. No meio da multidão, ela conseguiu passar sem ser notada. Nem um pisão. Neste momento sua mente volta para a realidade. Lembrou de quanto estava apaixonada e como aquela morte foi tão estúpida. A barata começou a andar em sua direção, e começou a sorrir sem saber o motivo. No mesmo instante o sorriso desapareceu. Chorou. Ao secar uma gota. Respirou. Ao abrir os olhos a barata estava em cima da mesa. Bebeu o que faltava. Lembrou da cena do assassinato. A barata continuava parada em cima da mesa. Já estava sozinha. Chorou novamente. Levantou da mesa derrubando o inseto sem querer. Neste momento um pé a esmaga. Enxugou uma gota de lágrima discretamente com sua unha e saiu do local discretamente como uma barata.