Entrevista com o dito cujo

Sabe aqueles dias raros em que ligamos a televisão pelo toque de botão no próprio aparelho? Bom, fiz isso porque não achava o bendito controle remoto. Ao deitar assisti um comercial tão longo que nem me deparei em que canal estava. Quando o show começa tomo um susto: Era um programa com um pastor exorcista!

Com sono e com preguiça de levantar para trocar o canal, insistia em ver o espetáculo. De repente uma pessoa se manifesta... Com as mãos para trás aparece um sujeito que o pastor afirmava que estava endemoniado. “Poxa! Expulsa logo o cão!”, pensei com os meus botões. Mas o pastor aproveitou para entrevistar o dito cujo ao vivo. Afinal, não é todo o dia que se pode assistir a entrevista do cão, lá, diretamente dos quintos, para a rede brasileira.

Com os olhos semi-abertos e morrendo de sono via o pastor perguntar: “O que você quer”: ele respondia com uma voz rouca: “quero dessstruirrrrrr... Argh!” (fazia um gesto estranho com as mãos). O que você quer com esta pessoa: “quero matarrrrrrrr”. Nesse caso eu mesmo fiquei com medo. Era mais horripilante que os filminhos de vampiros que estão passando no cinema.

E o tal pastor não mandava o demo embora não! Queria conversar e conversar com o dito cujo. Naquela situação, a pessoa mesmo não tinha identidade, era só um “meio” para falar com o tal do cão. De repente o dito cujo não tinha mais nada o que falar, a não ser resmungar: “matar”, “roubar... E destruirrrrrrr”.

E o pastor olhava para a câmera e ao mesmo tempo também falava com os telespectadores. Até que ele finalmente expulsa o danado. Duas pessoas conhecidas como diáconos, estavam atrás do homem que cai e é segurado.

Segundos depois ele levanta. O pastor pergunta: “Como você se sente agora? Está liberto?” E a pessoa timidamente responde um sim. E, depois entra o comercial. Levanto... E só então desligo a tv.

A catarse do vazio: o caso Uniban ou caso Geisy?

Por Sérgio Pires
A estudante Geisy Arruda ao ser expulsa da Uniban coloca a faculdade no mesmo balaio dos alunos que a insultaram, como uma catarse coletiva, passando a garota de vítima como a culpada dos fatos que aconteceram no último dia 22 de outubro. Parte da mídia ou da opinião pública pode até dizer que a aluna tem parcela de culpa, quando de fato não tem. O caso da garota pode ser avaliado por uma questão simples: identidade.

Ciampa (1984) afirma que “no seu conjunto, as identidades constituem a sociedade, ao mesmo tempo em que são constituídas, cada um por ela”. Cada indivíduo, dentro da sociedade na qual faz parte se constitui através das relações sociais, assume identidade pessoal em sua história de vida. Tanto os indivíduos quanto a sociedade estão sempre interligados.

Dessa forma, o vestuário é fundamental para a constituição desta identidade, pois é um canal de comunicação aceito por todos. A forma de se vestir pode ser uma representação da identidade, pois de acordo com Hall (2005) de um lado nos diferencia, marca a individualidade e, por outro, nos iguala e também nos confunde dentro de um grupo.

Hall afirma que a identidade ao mesmo tempo muda de acordo com a forma como o sujeito é interpretado ou representado. Dessa forma, Geisy nada mais fez do que se expressar através da roupa, pois sua indumentária é uma forma de comunicar, faz parte de sua identidade. Hall relata que esse processo é às vezes descrito como constituindo uma mudança de uma política de identidade de classe para uma política de diferença.

De acordo com Hall, esta identidade pode ser positiva ou negativa, ganhada ou perdida. Porém, quando compararmos aos fatos que aconteceram com a estudante, ela não só perdeu a identidade, mas sim, a tiraram, ou seja, ao ser expulda, sua identidade foi roubada.

A nota divulgada pela Uniban no último domingo (08) nos grandes jornais de São Paulo, relata que a estudante “tem freqüentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade...” Se, ao partir da lógica de Hall sobre identidade e sobre a afirmação do posicionamento da Uniban, a aluna não tem uma identidade de acordo com seus padrões. Ou seja, revelou aí uma INTOLERÂNCIA grave.

Todos têm o direito de se expressar, seja através das artes, da música ou da moda. Mesmo que ela choque, é preciso ter tolerância e respeitar as diferenças. Nos anos 60 a estilista inglesa Mary Quant inventou a mini-saia ao cortar o vestido de uma manequim e, o impacto surtiu um efeito que foi além da moral, mas sim político e influenciaria toda a juventude dos anos 60 por chocar os padrões de conduta. A mini-saia subverteu o moralismo tradicionalista imposto às mulheres. Antes o modelo da mulher era doméstica, dona de casa e submetida ao marido.

Nessa mesma época, a geração bay-boom do pós-guerra atinge a adolescência e rompe os arquétipos morais e ideológicos que moldaram as mentalidades e os costumes das épocas passadas. A música, o corpo e o vestuário, serviam para compor a identidade e para alcançar objetivo de “protestar”. O rock então surge com seu ritmo considerado do diabo com uma dança lasciva e proibida de Elvis com suas roupas justas e contra os “bons costumes”, porém isso serviu de armas emancipadoras pela liberdade de costumes e idéias que se prolongaram pelos anos seguintes.

Se as pessoas não puderem se expressar através da roupa, em um ambiente universitário, por ser subversiva. Logo serão proibidas as idéias ou qualquer outro tipo de manifestação que fere os padrões impostos. Porém, o exemplo mal dado pelos alunos da Uniban, assim como da diretoria de expulsar a estudante coloca em cheque o papel universitário e faz questionar sobre o pensamento da atual juventude e sobre a identidade do jovem contemporâneo. Afinal, é na universidade o local onde as idéias acontecem através das artes, da literatura, da sociologia, entre outras áreas e, até mesmo da moda através da forma de se vestir.




Bibliografia

CIAMPA, A. Costa. “ Identidade ”. In: Psicologia Social. O homem em movimento. Organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo. São Paulo, Brasiliense, 1984.

Hall, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade / DP&A, 11ª Edição 2006

Fashion Bubbles> A invenção da mini-saia>. Disponível em < http://www.fashionbubbles.com/2006/a-invencao-da-mini-saia/> Acesso em: 9 novembro de 2009.



Estadão ainda sofre pela Censura

Quem diria que passados 25 anos após a ditadura militar no Brasil, o país ainda sofre com a censura. Desta vez, por meio de medidas consideradas "legais", pois políticos entram na justiça e impedem o exercício do jornalismo.
O jornal O ESTADO DE S. PAULO passa por este problema há mais de três meses.

Religião nas escolas sim. Por quê não?

Foi aprovado pelo Senado brasileiro o acordo firmado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva e a Santa Sé, que estabelece a obrigatoriedade do oferecimento de ensino religioso pelas escolas públicas brasileiras. Diz o parágrafo 1 do Artigo 11: "O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação."


Porém, de acordo com a professora Roseli Fischmann, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Metodista, de São Bernardo do Campo, ee essa lei for sancionada pelo presidente, a constituição será violada. A afirmação foi feita em entrevista a revista Nova Escola de Outubro deste ano.


Equívoco - Acredito que o ensino religioso seja importante, desde que a grade dessa disciplina não interfira na escolha da crença de cada um. Acontece que já existem colégios batistas, metodistas, presbiterianos, católicos, adventistas... Todos particulares. E a escola pública? Como seria esta disciplina?


É certo que o mito, o sagrado está dentro da nossa cultura e quando contar com o apoio da antropologia, filosofia, sociologia, arqueologia, história, entre outras, o ensino religioso pode ser interessante para a construção da própria indentidade do indivíduo. É um risco. Pois haverá casos de ufanismos tipo “a minha religião é melhor que a sua”, mas não é isso que deve ser falado em sala. Mas sim sobre cultura e identidade.

O chuveiro


By Sérgio Pires
Não tinha o que fazer. Resolveu correr. Depois de um tempo, não tinha pra onde olhar, viu o mar. Voltou para casa. Não tinha o que vestir. Resolveu ficar em casa. Não tinha quem o escutasse. Ligou o rádio. Depois de um tempo, saiu. Voltou à tarde quando sua esposa já tinha chegado. Beijou, jantou e ligou o chuveiro. Sem se molhar, se olhou no espelho. Mãos, pés, calças, joelho, cueca, braços, camisa, perna... Jogados no chão. O vapor da água quente lembrava uma neblina, sem ver, se levantou, resolveu colocar a cabeça debaixo do chuveiro... Escorregou. Caiu com o queixo no piso molhado. Barulho! A esposa bate na porta. Ta tudo bem? Sem responder se levantou. Deixou a água bater em seu rosto. Abriu a boca e engoliu a água quente, como se fosse à cura. Ta tudo bem aí? Sentou no piso. A água agora batia em suas costas. Lembrou de onde vinha... De quanto a sua roupa estava suja. Pecado! Doía sua mente. Culpa. Ta tudo bem aí? Pegou a sabonete como se fosse um ritual. Esfregou o sabão no pinto, como se lavasse o pecado. Sorriu! Resolveu encostar seu corpo na parede e olhou para baixo a procura do membro. Não viu. Tou gordo. Ta acontecendo alguma coisa? Desligou o chuveiro. Lembrou que estava na rua quando resolveu se aventurar. Pegou um táxi. Pagou e deixou gorjeta. Andou pela calçada da augusta até encontrar uma sauna. Pague dez e ganhe uma dose grátis. Ouviu isso de um homem. Entrou. Nas escadas escuras desceu. Iluminação vermelha. Músicas de batidas rápidas se misturavam com a do coração. Vamos? Ouvir o convite de uma garota com cara de 13 anos. Ignorou. Pagou o que devia e bebeu o que tinha direito. Saiu. Sentiu-se mal. Depois de ser visto saindo daquele local por transeuntes, sentiu-se bem. Sorriu. Lembrou que o trabalho no escritório foi um saco. Demitiu o chefe. Demitiu o emprego. Começou a se enxugar. Devagar. Enrolou-se na toalha e abriu a porta do banheiro. Saiu. Ta tudo bem? Foi direto ao quarto e procurou por roupas sem marcas. Ta tudo bem? Tou falando com você! Vestiu uma camisa. Ficou mudo é? Voltou ao banheiro para resgatar as roupas sujas. Colocou-as no sexto onde a empregada iria lavar no dia seguinte. Por que você faz isso? Ligou a TV e começou a zapear. Me escuta! O que está acontecendo? Suspirou. Pensou... Palavras vazias são melhores recitadas na mente. Você é um otário, há tempos te observo. Fala comigo! O silêncio ainda era a resposta. Aconteceu alguma coisa? Porque você está assim? Virou o rosto a encarou agarrou-a pelo cabelo com força. Puxou-a para seu corpo e depois a jogou na parede. Beijou-a com força. Pediu desculpas. Ela, sem aceitar consentiu o prazer. Depois pediu desculpas a Deus. Ele confessou que não tinha mais trabalho. Ela confessou a gravidez. Ele disse estar contente. Ela resolveu ir ao chuveiro. Ele a seguiu. E no vapor da água quente ouviram a água cair sobre os corpos. Sem palavras, sem perdão, sem culpa. Foi isso que ele pensou em escrever.

HIP-HOP: Black Music de peso às segundas em Sampa

Por Sérgio Pires
Durante a entrevista
O Hip-Hop não pode ser consumido, tem que ser vivido, pois é um estilo de vida com os seus elementos: rap, o graffiti e o break. Este estilo de vida influência gerações e agora está ainda mais atuante, tanto que agora, os apreciadores deste gênero contam com o Projeto Scratch for Fun, que acontece todas as segundas-feiras no Mary Pop Dinning Club no Centro de São Paulo.
Dj Miss, a pioneira entre as mulheres a tocar o estilo

Trata-se de um projeto que já tem seis anos e tem uma programação voltada para este gênero. Os responsáveis pelo sucesso do projeto são Marcelo Sinistro e Luis Briza, que apostam nos melhores Djs do Brasil e do exterior para fazer bombar o local. “Toda casa precisa de hip-hop, pois é isso o que fazem as melhores casas noturnas”, afirma Briza.

Antes de ancorar no Mary Pop, o projeto passou por outros locais como: Bunker Lounge, 8 Bar, Astronet Bar, Trama Pocket Club e Tapas Club. “O objetivo é juntar os melhores profissionais do hip-hop que estão em evidência, e agregar à cultura hip-hop como o grafite e artes visuais.”

Briza relata que houve maturidade no movimento para colocar este projeto que é independente. Os DJs são os tops da black music, como o Nuts que toca com o Marcelo D2. Além disso, ainda tem a Carla Tenore, conhecida como a Dj Miss, a única mulher a tocar este gênero. "É ótimo tocar, fui uma das pioneiras do hip-hop, discípula de Zé Gonzales. É uma honra tocar o estilo, pois trabalho com peso, só para quem conhece mesmo", relata a Dj Miss.

Serviço
Projeto Scratch for Fun
Segundas-feiras a partir das 23h
Local: Mary Pop Dinning Club
Endereço: R Barao de Campinas, 375, Sao Paulo, SP
Telefone: 6607-7682 ou 3171-2441