Bom, eu havia lido o artigo na faculdade antes de ler o seu e-mail Sergio e também fiquei pensando sobre este: como será abordada a questão religiosa (caso seja aprovado tal proposta) nas escolas?
Porque religião, também sobre minha concepção e estudos, remete-se à um grau filosófico -aqui refiro-me aos estudos que estou realizando dentro da filosofia transcedental de Kant, indo até para além desta com o filósofo Ernst Cassirer, que desenvolve métodos fenomenológicos, não negando suas raízes kantianas, porém alargando os olhares para a questão em que estuda, o mito - e acredito que você não consegue explicar , pelo menos não tal fragmentado como citou - o homem somente como um ser histórico-cultural sem tocar na religião: a "apreensão" do mundo, perpassa de forma intríseca a este universo/estudo, tendo no sagrado/profano as bases para este estudo.
Agora, quanto a opçãp religiosa, isto é um ponto (final) dentro dessa grande área/estudo. Se o ensino de religião limitar-se a isso, realmente há de se concordar com o reporter da matéria, qual a finalidade dos templos, igrejas, mosteiros, etc? Não temos o projeto na íntegra, o que fica difícil avaliar. Deixo esta crônica(?) sobre o assunto, porque senti uma grande influência dos estudos míticos que estou realizando para o TCC. Um grande beijo e a gente se vê mais tarde.
O QUE É RELIGIÃO. (texto Rubens Alves)
O universo físico se estruturava em torno do drama da alama humana.e talvaez seja esta a marca de todas as religiões, por mais afastadas que estejam umas das outras: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigencia de que a vida faça sentido .Mas alguma coisa ocorreu, quebrou-se o encanto.
O céu, morada de Deus e seus santos, ficou de repente vazio. Virgens não mais apareceram em grutas. Milagres se tornaram cada vez mais raros, e passaram a ocorrer sempre em lugares distantes com pessoas desconhecidas.
A ciencia e a tecnologia avançaram ,construindo um mundo em que Deus não era necessário como hipótese de trabalho.Na verdade, uma das marca do saber cinetífico é o seu rigoroso ateísmo metodologico : um biólogo não invoca maus espíritos para exemplificar epidemias, nem um economista os poderes do inferno para dar contas da inflação, da mesma forma como a astronomia moderna, não busca ouvir harmonias musicais divinas.
Desapareceu a religião ? De forma alguma . Ma a religião foi expulsa dos centros do saber científico onde se tomam as decisões que concretamente determinam nossas vidas. Nunca vi os teólogos serem convidados a colaborar na elaboração de planos militares, também não vi a sensibilidade moral dos profetas senso aproveitada para o desenvolvimento de programs economicos. E nunca vi um industrial ou empresário ser convencido de que a natureza é a criação de Deus, e portanto sagrada, tenha perdido o sono por causa da poluição.
A experiencia religiosa permanece fora do mundo da ciencia, da fábricas, das usinas, das armas, do dinheiro, dos bancos , da propaganda, da venda , da compra, do lucro.
Uma pessoa sem religião era uma anomalia .No mundo dessacralizado as coisas se inverteram.
A religião não se liquida com a abstinencia dos atos sacramentais e ausencia dos lugares sagrados da mesma forma como o desejo ssexual não se elimina com os votos de castidade.E quando a dor bate a porta e se esgotam os recursos da técnica que nas pessoas acordam os videntes, os exorcistas , os curadores , as benzedeiras, os profetas e poetas , aquele que reza e suplica, sem saber direito a quem...
E surgem então as perguntas sobre o sentido da vida e os sentido da morte , perguntas das horas de insonia e diante do espelho...
O que ocorre com frequencia é que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora , travestidas, por meio de simbolos secularizados.Promessas terapeutica de paz individual, de harmonia íntima, de liberação da angustia, esperanças de ordens sociais fraternas e justas, de reslução das lutas entre homens e de harmonia com a natureaza, por mas disfaraçadas que estejam nas máscaras da psicanálise e a psicologia , ou da sociologia, da políticae da economia, serão sempre expressões dos problemas individuais e sociais em torno dos quais foram tecidas as teias religiosas.
É fácil identificar , isolar e estudar a religião como o comportamento exótico de grupos sociais restritos e distantes.mas é necessário reconhece-la como presença invisível, sutil, disfraçada, que se constitui num dos fios com que se tece o acontecer do nosso cotidiano.A religião está mais proxima de nossa experiencia pessoal do que desejamos admitir.