O pensamento egoísta de ligar o "f*da-se"

A nova "ideologia" do “F*da-se” e o novo pensamento egoísta, é bem mostrado em um dos livros de auto-ajuda mais vendidos do mundo “ A sutil arte de de ligar o f*da-se” e o novo pensamento tipo “I don’t give a shit” – mostra o quanto egoísta e individualizada está parte da sociedade. Tipo, não importa o quanto a sociedade está ou o problema que o outro tem, quero é que se f*da, o importante sou eu e meus problemas, que quero resolver e superar, não importa como.
Este tipo de "rebeldia" é a mais primária e egoista que pode existir.

O preconceito, The band of Holy Joy e as lojas “Hi Fi”

Um dos meus empregos dos sonhos quando ainda era adolescente era trabalhar como vendedor de loja de discos. Sim, achava que seria ótimo, prazeroso trabalhar em um local tão descolado, principalmente as lojas do shopping como a antiga loja “Hi Fi”, para quem não sabe, era um ambiente “super maneiro”, com vários quadros de bandas nas paredes, a iluminação era diferente, parecia que você estava em uma danceteria, e o melhor ainda, a loja tinha uma cabine musical que parecia com as famosas cabines de telefones público de Londres, só que, ao invés das cabines, tinha um toca discos com isolamento acústico para o comprador desfrutar e conhecer o vinil que iria levar.

Nesta loja, era um sonho trabalhar e uma obrigação de comprar discos lá. Era Status ter no vinil, um selo “Hi Fi”, mais chique ainda era andar com o envelope Hi Fi com o disco dentro, era muito “cool”. Entretanto, nunca vi um cartaz ou anuncio nestas lojas precisando de vendedores ou até mesmo estoquistas.

 

Envelope da HI Fi para guardar os discos

Lá no final dos anos 80, comecei a colecionar discos de vinil, todo o trocadinho que descolava era investido nestas bolachas, assim como a assinatura da revista Bizz, a Placar e quadrinhos da Marvel. O meu quarto era uma desordem total destes artigos e para compartilhar esta experiência, trampar em uma loja de discos tornou-se uma obsessão.

Comecei a entregar currículos naquelas lojinhas que vendem discos bregas no centro de São Paulo. Certa vez o cara olhou pra mim, começou a me medir. Eu, um jovem negro, cabelo crespo tipo escovinha e de óculos, acho que não era o perfil que estava procurando, e me dispensou.

Fui então à loja mais séria, a Brenno Rossi, no Shopping Ibirapuera. Esta loja, além das músicas populares, trabalhava com os clássicos. Em 1989 ou inicio dos anos 90, quando o CD era artigo de luxo e importado, eles tinham um cantinho só de CDs importados de músicas clássicas. Entreguei o meu currículo para o gerente, que só me olhou e disse: “Qualquer coisa, te ligamos”.

O mais curioso, é que, sempre que entrava em uma destas lojas, ficava sempre olhando os discos e a disposição dos artistas nas estantes. Perguntava sobre bandas e discos que não estavam ali, apenas para testar o conhecimento dos vendedores, e sempre eu os achavam fracos, com falta de conhecimento musical, pois não sabiam responder algumas perguntas que fazia.

 

Mas o mais “legal”, para não dizer decepcionante, para comprovar a minha tese, foi o que aconteceu na minha loja dos sonhos, a Hi Fi. Certa vez, finalmente vi um anúncio de vendedor na vitrine. Entrei na loja e fiquei, como de costume, a olhar os discos e suas disposições nas prateleiras e vi várias raridades do rock, misturadas com bandas sertanejas e bandas pops com discos de rock inglês, que era a coqueluche dos anos 80. Um vendedor me abordou e eu disse que só estava olhando os discos.

Depois fui até o caixa e perguntei sobre a vaga de vendedor. Ele me disse para falar com o gerente e o mesmo tinha saído e voltava em 5 minutos. Aguardei ali na loja até o responsável retornar e quando chegou, o caixa informou que eu estava ali o aguardando. Então ele me perguntou: “Você tem experiência com vendas? Tem experiência com música?”. Respondi: “Não, mas tenho um bom conhecimento”.

Ele retrucou: “Sinto muito. É preciso experiência.”, e me dispensou, ali. Na lata. Então eu perguntei pra ele: “Você tem o single do grupo inglês The Band of Holy Joy?”, ele me respondeu: “Não. Não recebemos e não conheço a banda”. Então fui a até a prateleira, puxei o disco que ele disse não conhecer e o coloquei em cima do balcão do caixa, e disse: “Só quis te testar para ver se você tem conhecimento musical”, e fui embora.

Desde então, esta banda ficou especial pra mim, tanto que tive que comprar o disco importado deles, mas em outra loja, é claro!