Se há um programa que causa
debates na televisão aberta é o “Esquenta”, veiculado aos domingos na Rede
Globo para todo o país. Uma breve pesquisa na internet revelará várias críticas
ao dominical comandado por Regina Casé que atinge altos índices de audiência
por ser ou tentar ser o porta voz da periferia, e isto causa polêmicas em todos
os aspectos.
Nas últimas décadas criou-se um
senso comum que a linguagem da periferia é o rap, principalmente em São Paulo,
por isto há vários programas que exaltam a cultura hip hop como o único gênero
da periferia, como Manos e Minas, entre outros. Ficam de fora, às vezes o
samba, o funk, sertanejo, entre outros.
Fiquei interessado sobre o tema
ao assistir alguns programas e, acho a proposta bem legal. Como mostrar a
periferia de uma forma alegre? Ela (Regina Casé) faz um programa digno e fui
repreendido por um conhecido ao fazer tal afirmação. Intelectual de esquerda,
marxista nato, afirmou-me que é um atestado de pobreza e burrice ver tal
programa, pois valoriza apenas uma cultura duvidosa e alienante. Outro dia, um
outro conhecido, este conservador, afirmou a mesma coisa, praticamente o mesmo
argumento, aí cheguei a uma conclusão: “O programa Esquenta é criticado não por
suas características, mas sim pelo preconceito”.
A periferia é multicultural, tem
de tudo, e é esta mistura é a síntese do Esquenta, “tudo junto e misturado”.
Mas isto não é bem visto por críticos intelectuais principalmente estes “burgueses”
de todos os gêneros. É possível encontrar críticas ao Esquenta com teores
preconceituosos, como este que encontrei na internet.
“Comandado pela brega Regina Casé
(sic) ... O dominical tem a roupagem espalhafatosa e colorida das roupas da
apresentadora... O programa mostra um Brasil com valores culturais pobres ao
levar para exibição o que considera a voz dos marginalizados. Então é comum ver
um linguajar cheio de gírias, moças seminuas rebolando, dançando funk e outros
ritmos ao som de letras pobres e sem sentido, senão o de exaltar a sensualidade
e o sexo fácil. O Esquenta mostra o Brasil dos desgraçados, dos desprovidos de
sonhos, dos que não tem expectativas, dos que estão juntos e misturados. Uma
grande periferia, onde o nóia está próximo do traficante. Onde a dona de casa e
o trabalhador a tudo vê, tudo ouve, tudo sente, mas que finge que nada viu,
nada escutou, nada sentiu e ainda tem o bandido e traficante como amigo do
peito. Tudo junto e misturado, é esta a impressão que O Esquenta passa”. (Ver texto original).
Há ainda textos engajados que
afirmam que o programa tem características racistas, por colocar o negro em
posições “suburbanas”. “O programa reforça o estereótipo dos negros brasileiros
como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre com
um sorriso no rosto, esquecendo-se das mazelas cotidianas por meio da dança, do
remelexo, das rimas pobres do funk, do mau gosto de penteados e cortes de
cabelo extravagantes” (ver a matéria original).
Caro amigo ou amiga que lê estas poucas
linhas, o fato, é que a periferia incomoda, seja qual for a abordagem. Qualquer
tipo de programação que mostre uma cultura que não venha do “mainstream”
central, ou da Vila Madalena e adjacências elitizadas espalhadas pelo nosso
Brasil, será sempre vista como uma subcultura, e sempre será criticada por
todos, não importando a ideologia.
A cultura seja ela qual for, deve
transitar entre si como trocas de informações, fazendo com a cidade possa ser
mais homogênea, mesmo com tantas diversidades de gêneros. As informações nos
botecos da periferia são diferentes dos “botecos” elitizados com suas músicas e
comidas gourmet; são, na maioria das vezes, mais “frescas”, saindo do forno,
sempre com uma moda diferente, com roupas coloridas e cortes de cabelo com
gosto duvidoso para alguns.
Mesmo assim, ganhará a mídia e irá se apresentar em programas
como o Esquenta. Depois disso, será elitizado nos bairros ricos e nos bares gourmet
e nos locais onde vendem comidas de rua, ops! Aliás, agora é truck foods.
Enfim, vários usuários espalharão esta moda do subúrbio pela cidade e, ainda assim,
continuarão a condenar tudo que a televisão mostra da periferia, seja do bem ou
do mal. Onde fica mesmo a periferia?