Taí um clichezinho que fiz para dar rizada...
Por Sérgio Pires
Voava rumo ao centro e minhas asas já não eram as mesmas. Ao voar pela Avenida Paulista senti que estava contra o evento. Pousei. Lá na esquina com a Augusta vi algumas pessoas que tentavam erguer voo em um tempo tão ruim. Começava a chover.
Então decidi seguir os conselhos de Cecília. Em tempos de chuva é preciso voar por cima das nuvens. O problema seria como chegar até lá. Acho que não tinha forças o suficiente.
Ao meu redor algumas pessoas desistiram de voar e começavam a andar pela calçada. Segui a multidão enquanto a chuva aumentava ainda mais. Não tinha tempo de parar em algum local para me proteger, então resolvi arriscar a voar novamente, mesmo com uma das asas machucadas.
Aproveitei que ainda não estava trovejando e calculei o tempo. Acho que demoraria pelo menos uns cinco minutos para chegar no Departamento de Voo Humano. Onde estavam me esperando. Fica lá na região central, perto da Estação do metrô Santa Cecília.
Enquanto isso, Cecília me aguardava. A reunião estava prestes a começar. Caso não chegasse a tempo, poderíamos perder as asas. Foi isso que o secretário Gustavo comentou na carta. Tudo porque na última semana voamos por áreas onde o sistema não pode nos localizar, porém ao passar perto de uma torre, fui localizado, daí então começou uma perseguição. Descobrimos que aquela área teria que pagar pedágio das asas. “Ora, não pedi para nascer com asas”, disse ao policial. Porém ele retrucou: “Todos devem ter os mesmos direitos, pois tem gente que nasce sem asas. Daí, os que têm asas tem que pagar. Caso contrário elas serão amputadas”.
Amputadas! Nunca. Carregava o envelope do licenciamento das asas que é pago junto ao Departamento de Voo humano, todos os “asantes”, como são chamados os que têm asas, devem pagar, porém, muitos não têm dinheiro e acabam amputados e se tornam “andantes”, como a maioria.
Ao chegar no departamento, Cecília estava tremendo de medo, pois estávamos na frente do juiz e estavam me esperando com os comprovantes do licenciamento das nossas asas. Ao chegar, Cecília me vê e logo me abraça aliviada. Nosso filho Pedrinho sorri com minha chegada.
Ao entregar os documentos ao juiz, ele arregala os olhos, e diz: “Infelizmente vocês esqueceram de pagar o mês 3. Então serão punidos”. Cecília foi a primeira. Veio um oficial com uma ferramenta estranha, porém bem afiada. E de uma só vez decepou as suas duas asas. Eu fui logo em seguida. E, em menos de 1 minuto estávamos os dois sem as nossas asas. Cecília chorou.
Pedrinho apenas nos olhou e falou. Pai! Vocês agora estão que nem eu. Sem asas. Que nada muleke, agora é que vamos voar. Todos sorrimos.