A mãe que comeu o filho
Texto e arte do livro "Crônicas e contos" de Sérgios Pires a ser lançada em 2016 |
É impossível uma
pessoa morrer de fome no mundo, não consigo ter esta concepção, porém isto acontece, e o pior, ignoramos. Uma publicação cientifica, inglesa The Lancet,
um veículo de fama internacional que, publicou um relatório, há quatro anos,
afirmando que mais de 3 milhões de crianças morreram de subnutrição em 2011. É muito
triste e temos que fazer uma reflexão séria, sobre o meio ambiente, consumo e
também solidariedade.
Todos os programas
governamentais atuais, começaram a partir do Fome Zero, pois a intenção de
acabar com a fome do governo brasileiro é legítima, apesar de ter várias
críticas.
Todos sabemos que o
melhor não é dar o peixe, mas sim, ensinar a população a pescar. Infelizmente,
muitos se esquecem, que para ir à pesca, são necessários utensílios que o povo
não tem. E a população faminta só tem a vontade, mas não tem material para a
batalha. É claro que sempre tem alguns que tiram vantagens e aproveitam da
situação deixando de fora quem realmente precisa.
Hoje, com os
refugiados da Síria, das pessoas que ainda estão lá, sofrendo, assim como
dezenas de países que estão em conflitos, milhares de pessoas estão morrendo,
não só de balas e bombas, mas de fome.
Há cerca de quatro mil
anos, o povo de Samaria em Israel passava por grandes dificuldades por causa da
seca e pela fome que assolava a região. O rei andava a cavalo pela região,
quando ouviu a seguinte reclamação de duas mulheres que o interpelaram:
"Esta mulher disse, dá o teu filho, para que hoje o comamos e amanhã
comeremos o meu. Então cozemos o meu filho e no dia seguinte, eu disse: Dá o
teu filho para que o comamos, e ela o escondeu. Ouvindo isso o rei
(envergonhado) rasgou suas vestes e se vestiu de pano de saco" (2 Reis -
6:28,29,30) Mas tarde Deus proveria suprimentos na entrada desta cidade com
farinha e cevada para saciar a fome do povo.
Estamos assistindo
cenas horríveis de violência no mundo, não irei me espantar quando os seres
humanos começarem a se transformar em canibais para sobreviver. Até o momento o
antropofagismo é social, mas as roupas de saco quem veste no Brasil e em todo o
mundo, não são os governantes, como em Samaria, mas sim o povo, que
envergonhado assiste as pessoas morrerem de fome e tentamos esconder a nossa
nudez, pois estamos parados e anestesiados vendo os fatos acontecerem sem agir.
Decida por Maria
Arte - Bodão - (texto e desenho fazem parte do livro "Contos e Crônicas" de Sérgios Pires que será lançada em 2016) |
A dona Maria saiu para
fazer suas compras no meio de semana, pela manhã, pois receberia visitas em sua
casa à tarde. Precisava comprar café, açucar, arroz e feijão, produtos básicos
que nunca faltaram em sua casa. Aliás, estes ítens nunca deveriam deixar de
estar nas mesas de todos os brasileiros, pois o país já foi uns dos primeiros
no mundo no cultivo destes produtos.
Então vamos voltar a
dona de casa, que no caminho tinha que passar no banco para pagar as contas de
água, luz, telefone, IPVA e IPTU. Apenas um detalhe: Maria tinha esquecido que
naquele dia o ônibus tinha aumentado, quer dizer, reajustado, como dizem os
nossos governantes.
Satisfeita por pagar
suas contas em dia, foi ao mercadinho, pegou com carinho o café, o açucar, o arroz
e o feijão. Ao chegar no caixa, uma surpresa, os trocados que sobraram das
contas que foram pagas, eram insuficientes para levar os quatro produtos. O
caixa exclamou: "A senhora tem que tirar um íten".
Dona Maria olhou o
café e refletiu que não poderia dispensá-lo, pois receberia visitas em sua casa;
o açucar estava ligado diretamente ao café e se não levasse o arroz e o feijão,
não teria o que comer naquele dia. Enquanto isso a fila do caixa aumentava.
É vergonhoso ao Brasil
deixar faltar estes produtos na mesa dos brasileiros. Não queremos que nenhum
governo viabilize uma situação como esta, mas infelizmente sabemos que esta
cena acontece todos os dias nos mercadinhos e nos grandes hipermercados do
país. O governo deve incentivar a agricultura e fazer uma política para que
estes produtos fiquem mais baratos, viabilizando uma política completa, que vai
desde a logística para que estes produtos chegue até a nossa mesa, até o
pequeno agricultor que faz o trabalho mais árduo.
A história de Dona
Maria é uma ficção, qualquer semelhança com a vida de algumas pessoas é pura
coincidência. Portanto, não sou digno de tirar qualquer produto da dona de
casa, pois seria injusto, ela foi fiel ao Estado pagando suas contas e foi
desprezada pelo governo, que a deixou passar vergonha na fila do caixa. Decida
por Maria!
Feiras, suas cores e temperos
Os temperos já foram comparados ao ouro. Estas riquezas que dão “vida” aos alimentos são encontradas em feiras espalhadas pela cidade na sua forma mais pura, ao contrário dos supermercados.
(fotos tiradas na feira do Jardim Miriam em 16.01.2015)
Fazendo molho de pimenta
Se há uma coisa que realça os alimentos é a pimenta. Uma boa pimenta é irresistível e um bom molho transforma o alimento em um prazer imensurável.
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