Detalhes que são despercebidos do Teatro Municipal de São Paulo
Você é o que você paga.
Nossas vidas estão associadas às
várias contas que temos que pagar em nosso dia a dia. Algumas delas fazem jus
ao que necessitamos, e a maioria não serve absolutamente para nada. Começo por
este que voz escreve estas linhas, que ao checar meu extrato bancário me
decepcionei ao notar em tantas futilidades, mesmo andando sem nenhuma moeda ou
nota na carteira ou no bolso, apenas o cartão do banco, que é a prova cabal,
pois deixa um enorme rastro no extrato.
Antes, andava com dinheiro vivo,
e o meu rastro era o número de objetos que acumulava em casa, como a revista
Bizz, lá dos anos 80 e 90, tenho a coleção inteira e nunca fui assinante, se
fosse, até poderia ganhar algum desconto; uma coleção de aproximadamente 1 mil
discos, hoje reduzida a 500, e o mesmo número de CDs. Além de DVDs, livros, entre
outras tranqueiras que acumulavam meu quarto, quando adolescente.
O escritor Oscar Wilde, dizia que,
a pessoa é o que ela lê. Neste mesmo raciocínio eu levava no campo da música: “a
pessoa é o que ela ouve”. Cansei de ser mal educado quando visitava casa de
pessoas e ia logo analisando a estante de CDs ou vasculhando seus discos. Já na
casa de amigos ficava encantado quando encontrava algo legal. Hoje, seguindo
este preceito, concluo que, “somos o que estamos pagando”.
Ao analisar o rastro do meu
extrato bancário, descobri que gosto de comidas e bebidas de boteco; cervejas
caras em padarias; doces fora de hora; multas de trânsito; pagamento com juros
da conta do celular; saques bancários inúteis, pois não sei que fim levou
aquela grana, entre outras despesas bestas. Nada de significativo, como um
ingresso para algum show ou teatro, ou até mesmo um presente, um perfume ou uma
roupa qualquer.
Logo, cheguei à conclusão que é
necessário consumir de forma consciente, não só para nossas finanças pessoais,
mas para a construção da nossa própria identidade. Direcionar o nosso dinheiro
em coisas úteis traz consequências positivas para a nossa vida como pessoa. Não
importa o quanto ganhamos, seja muito, ou pouco, pois na verdade, somos o que
pagamos.
Estes dias fui correr e agradeci.
Estes dias resolvi correr. A corrida é muito mais que uma atividade esportiva é uma terapia. No começo corremos contra o nosso corpo, bate um cansaço, uma sensação chata de desistir, mas logo vai passando. Chega em um momento que as pernas te levam junto com o pensamento. E a leve brisa da corrida faz você refletir, agradecer por aquele momento, é um momento de paz e tranquilidade em cada passada suavemente cadenciada pelo ritmo. Nada de esforço, apenas sentindo o ritmo e agradecimento.
Estátua isolada
Uma bela estátua no Vale do Anhagabaú, isolada, triste e sem olhares, quando a olhei percebi sua beleza e a contemplei por minutos.
Proposta para nova camisa da seleção
A CBF não é uma entidade confiável depois de tantos escândalos recentes. Na última manifestação o povo vestiu um a camisa amarela que seria da seleção brasileira, mas na verdade é da CBF. Fiz uma brincadeira com esta camisa, e se trocássemos o simbolo da CBF pelo brasão brasileiro? Não ficaria mais bonita? A CBF apenas organiza a seleção, mas não precisamos vestir a camisa desta entidade.
Singelamente
Foi bem assim, devagar,
entende? Eu estava andando pela Avenida Cupecê, lá na Cidade Ademar,
quando eu
a vi entrando na igreja. Ela estava toda nua e estava sozinha. Era uma morena
de aproximadamente 1.70 de altura com os cabelos cacheados e cumpridos até a
cintura. Pensei até que fosse pegadinha ou propaganda de televisão. Dois dias
depois descobri que o Carlos a conhecia, e ele me disse que o nome dela era Penélope.
Achei estranho, pois nunca conheci ninguém com o nome de Penélope, a não ser a
do desenho animado. Contei o fato ao Renato, e, de imediato ele desmentiu o
Carlos e disse que esta menina estudava no Leonor Quadros, uma escola pública
da Cidade Ademar, e que o nome verdadeiro dela era Amélia e que estava muito deprimida
por ter acabado o seu casamento. Semanas se passaram e eu encontrei a Suzi, e
sem querer ela tocou no assunto da mina que entrou nua na igreja. Ela disse que
conhecia a irmã dela, e disse que tinha ficado louca depois de um acidente de
carro na Avenida 23 de maio. Suzi disse que a mina se chama Ester, em homenagem
a mulher da bíblia, já que seus pais eram evangélicos e depois disto nunca mais
ouviu falar dela e, que a última vez que a viu foi neste vídeo que viralizou
na internet. Não falei a ninguém que a tinha visto, apenas fiquei curioso, e
descobri que ela tinha três nomes, ou três histórias diferentes de quem
supostamente a conhecia. Foi aí que resolvi tirar esta história a limpo. Fui até a
igreja e ao adentrar logo na porta, uma morena muito simpática sorriu e me deu
um jornal junto com um papel com uma mensagem bíblica. Reconheci aquele rosto
singelo das semanas anteriores, um olhar profundo que enaltecia sua bochecha
rosada, um vestido justo e delicadamente comportado junto a um lenço que cobria
seus cabelos cacheados. Sem palavras agradeci o jornal e o pequeno panfleto e
me senti completamente nu, e renovado ao vê-la daquele jeito, vestida. Não contive a
curiosidade e perguntei: “Qual é o seu nome? Um breve olhar foi a resposta
completada pelas palavras singelas. “Não preciso de nome, só preciso ser”, disse sorrindo. Agradeci e fui embora.Álbum de fotografias, memórias, facebook e a felicidade falsa
Lembro de uma aula do
professor de história Ivanir, na antiga 6ª série, pois ele nos mostrou uma foto
em nosso livro, que se tratava de uma imagem pré-histórica desenhada pelos
homens de cro magnon há milhares de
anos. A imagem era de vários homens caçando e no centro do desenho tinha um
animal que seria a caça, e o professor nos explicou que aquele registro era
importante para a nossa história pois retratava um modo de vida daquele povo,
pois a caça, era um evento social importantíssimo para a cultura e também para
a sobrevivência do grupo, pois a identidade não era individual, mas sim
coletiva, por isto as imagens geralmente eram de pessoas em grupo.
Aquela aula ficou marcada até
hoje, pois a nossa identidade é o que nos move dentro desta sociedade em que
vivemos, e nos tempos atuais ela é múltipla, como explica Stuart Hall, em seu
livro “A identidade cultural na pós modernidade”. Diante desta multiplicidade
de identidades que possuímos, algo me incomodou muito nos últimos tempos com a
declaração do renomado filósofo Leandro Karnal. Ele afirmou em uma palestra,
aliás, orientou a todos “a pararem de postar felicidade falsa no facebook”, e
isto foi compartilhado por milhares de pessoas, do próprio facebook, como uma
afirmação “feliz”, basta saber, se era do filósofo, ou da “felicidade falsa” de
quem compartilhava deste pensamento.
Quem sou eu para entrar em um
debate com Leandro Karnal, assistir ao seu vídeo no youtube que alguém
intitulou: “Para de postar felicidade falsa no facebook”, me incomodou muito.
Isto porque, ele fala de vários assuntos, citando Hamlet, O príncipe, entre
outros escritores, e no final solta esta frase polêmica, que eu ouso a
discordar do filósofo, pois o papel das redes sociais é exatamente este: postar
a felicidade, mesmo que seja uma felicidade idealizada, pois ela é a
possibilidade da construção de uma felicidade real, como a imagem dos desenhos
do homem das cavernas, afinal, nem todas as caçadas tinham sucesso, mas eram
idealizadas.
No passado, os álbuns de
fotografias, das nossas mães e avós, eram compartilhados apenas por parentes, e
entes mais íntimos da família, pois as pessoas sentavam na sala, em um café ou
lanche da tarde e ficavam ali, folheando as memórias “felizes” do passado.
Hoje, a felicidade é no presente, e constitui um novo conceito do homem moderno
com as tecnologias em tempo real.
Vários pensadores, filósofos,
escritores afirmam que, quanto mais nos conhecemos, mais devemos nos
entristecer, como Fernando Pessoa em seu Livro do Desassossego, ele faz as
seguintes afirmações: “...Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao
que amo...” “... Parece-me que sonho cada vez mais longe, que cada vez mais
sonho o vago, o impreciso, o invisionável. ” “...Quanto mais me vejo rodeado,
mais me isolo e entristeço...”
Temos então que concordar com
tais pensamentos? Eu não posso me conhecer profundamente e me sentir feliz com
possíveis mudanças? Pelo filósofo e alguns pensadores não. Podemos citar também
Aristóteles, que ao passar por uma feira em Atenas e ao ver tantas coisas desnecessárias
sendo vendidas, falou que o homem não precisaria de nada daquilo para viver, em
outras palavras, não precisava de “coisas” materiais para serem felizes.
É claro que sabemos disto.
Temos plena consciência, ou deveríamos ter, que a felicidade real é a que nasce
dentro de cada indivíduo, dentro de um ambiente social adequado. O antropólogo
Roberto da Matta em sua obra “A casa, a rua e o trabalho”, é um retrato desta múltipla
identidade, pois o bem-estar social deve estar em harmonia nestes ambientes,
assim como o seu bem-estar pessoal-sentimental. Hoje as redes sociais é um novo
ambiente a ser estudado e analisado profundamente, e enquanto isto não
acontece, ignoremos o conselho de Leandro Karnal, pois continuaremos a postar a
nossa felicidade no facebook, mesmo que idealizada, afinal, há um verbo que não
foi analisado pelo filósofo: compartilhar, pois esta palavra tem um novo
contexto, em um novo tempo, mas Karnal não tem redes sociais, seria ele então
feliz, ou triste porque conhece a si mesmo.
Cocteau Twins e o lirismo de Treasure
O grupo inglês Cocteau Twins foi
um fenômeno na Inglaterra nos anos 80 e a cena alternativa mundial, o que veio
a se chamar “indie” nos dias de hoje. Eles nunca foram do tipo de banda que
enchia estádios ou preenchia os tempos livres da MTV e também nunca venderam
milhões de álbuns. Em vez disso, era uma banda conceitual no sentido real da
palavra, tinha um estilo próprio com uma identidade ímpar da vocalista
Elisabeth Fraser, que, com suas nuances vocais, fazia calmamente uma mudança
fundamental na percepção, exercendo uma influência do lírico, com as nuances de
guitarras, às vezes distorcidas, que era uma novidade para a sua época.
O grupo esteve junto durante 15
anos e acabou em meados de 1998, mas deixou um legado ímpar para seus fãs ao
redor do mundo. Tive a oportunidade de vê-los no Brasil nos anos 90 no Projeto
SP, na turnê do álbum Heaven or Las Vegas (1990). Foram vários álbuns
marcantes, mas gostaria de destacar um em especial, o Treasure (1984). Um
clássico. Para os amantes da boa música, não importa, o estilo, este álbum
agrada a todos. Não é um disco pop, é um álbum de música no real sentido da
palavra. Os músicos sempre rejeitaram este álbum, alegando que foi gravado às
pressas, mas a imprensa e os fãs foram ao delírio, e consideram o melhor
trabalho da banda, pois é o mais vendido.
Deixo aqui o link para este álbum
obrigatório na discografia de qualquer um.
A mãe que comeu o filho
Texto e arte do livro "Crônicas e contos" de Sérgios Pires a ser lançada em 2016 |
É impossível uma
pessoa morrer de fome no mundo, não consigo ter esta concepção, porém isto acontece, e o pior, ignoramos. Uma publicação cientifica, inglesa The Lancet,
um veículo de fama internacional que, publicou um relatório, há quatro anos,
afirmando que mais de 3 milhões de crianças morreram de subnutrição em 2011. É muito
triste e temos que fazer uma reflexão séria, sobre o meio ambiente, consumo e
também solidariedade.
Todos os programas
governamentais atuais, começaram a partir do Fome Zero, pois a intenção de
acabar com a fome do governo brasileiro é legítima, apesar de ter várias
críticas.
Todos sabemos que o
melhor não é dar o peixe, mas sim, ensinar a população a pescar. Infelizmente,
muitos se esquecem, que para ir à pesca, são necessários utensílios que o povo
não tem. E a população faminta só tem a vontade, mas não tem material para a
batalha. É claro que sempre tem alguns que tiram vantagens e aproveitam da
situação deixando de fora quem realmente precisa.
Hoje, com os
refugiados da Síria, das pessoas que ainda estão lá, sofrendo, assim como
dezenas de países que estão em conflitos, milhares de pessoas estão morrendo,
não só de balas e bombas, mas de fome.
Há cerca de quatro mil
anos, o povo de Samaria em Israel passava por grandes dificuldades por causa da
seca e pela fome que assolava a região. O rei andava a cavalo pela região,
quando ouviu a seguinte reclamação de duas mulheres que o interpelaram:
"Esta mulher disse, dá o teu filho, para que hoje o comamos e amanhã
comeremos o meu. Então cozemos o meu filho e no dia seguinte, eu disse: Dá o
teu filho para que o comamos, e ela o escondeu. Ouvindo isso o rei
(envergonhado) rasgou suas vestes e se vestiu de pano de saco" (2 Reis -
6:28,29,30) Mas tarde Deus proveria suprimentos na entrada desta cidade com
farinha e cevada para saciar a fome do povo.
Estamos assistindo
cenas horríveis de violência no mundo, não irei me espantar quando os seres
humanos começarem a se transformar em canibais para sobreviver. Até o momento o
antropofagismo é social, mas as roupas de saco quem veste no Brasil e em todo o
mundo, não são os governantes, como em Samaria, mas sim o povo, que
envergonhado assiste as pessoas morrerem de fome e tentamos esconder a nossa
nudez, pois estamos parados e anestesiados vendo os fatos acontecerem sem agir.
Decida por Maria
Arte - Bodão - (texto e desenho fazem parte do livro "Contos e Crônicas" de Sérgios Pires que será lançada em 2016) |
A dona Maria saiu para
fazer suas compras no meio de semana, pela manhã, pois receberia visitas em sua
casa à tarde. Precisava comprar café, açucar, arroz e feijão, produtos básicos
que nunca faltaram em sua casa. Aliás, estes ítens nunca deveriam deixar de
estar nas mesas de todos os brasileiros, pois o país já foi uns dos primeiros
no mundo no cultivo destes produtos.
Então vamos voltar a
dona de casa, que no caminho tinha que passar no banco para pagar as contas de
água, luz, telefone, IPVA e IPTU. Apenas um detalhe: Maria tinha esquecido que
naquele dia o ônibus tinha aumentado, quer dizer, reajustado, como dizem os
nossos governantes.
Satisfeita por pagar
suas contas em dia, foi ao mercadinho, pegou com carinho o café, o açucar, o arroz
e o feijão. Ao chegar no caixa, uma surpresa, os trocados que sobraram das
contas que foram pagas, eram insuficientes para levar os quatro produtos. O
caixa exclamou: "A senhora tem que tirar um íten".
Dona Maria olhou o
café e refletiu que não poderia dispensá-lo, pois receberia visitas em sua casa;
o açucar estava ligado diretamente ao café e se não levasse o arroz e o feijão,
não teria o que comer naquele dia. Enquanto isso a fila do caixa aumentava.
É vergonhoso ao Brasil
deixar faltar estes produtos na mesa dos brasileiros. Não queremos que nenhum
governo viabilize uma situação como esta, mas infelizmente sabemos que esta
cena acontece todos os dias nos mercadinhos e nos grandes hipermercados do
país. O governo deve incentivar a agricultura e fazer uma política para que
estes produtos fiquem mais baratos, viabilizando uma política completa, que vai
desde a logística para que estes produtos chegue até a nossa mesa, até o
pequeno agricultor que faz o trabalho mais árduo.
A história de Dona
Maria é uma ficção, qualquer semelhança com a vida de algumas pessoas é pura
coincidência. Portanto, não sou digno de tirar qualquer produto da dona de
casa, pois seria injusto, ela foi fiel ao Estado pagando suas contas e foi
desprezada pelo governo, que a deixou passar vergonha na fila do caixa. Decida
por Maria!
Feiras, suas cores e temperos
Os temperos já foram comparados ao ouro. Estas riquezas que dão “vida” aos alimentos são encontradas em feiras espalhadas pela cidade na sua forma mais pura, ao contrário dos supermercados.
(fotos tiradas na feira do Jardim Miriam em 16.01.2015)
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