O meio não é a mensagem?! Pode ser?!

 


Não… Não creio totalmente que o meio é a mensagem, mas, posso até acreditar parcialmente nesta tese. Por décadas o estruturalismo da comunicação de Ferdinand Saussure é estudada nas escolas e faculdades, e nela, o pensamento principal é: “o meio é a mensagem”, ou seja, todo enunciado está carregado de algum tipo de ideologia, seja ela qual for, pois toda palavra não é isenta, há uma razão em sua escolha.

Durante o curso de jornalismo, tive ótimos professores e, uma das definições da função do jornalismo é “ser testemunha da história”. Para isto, é preciso estar cada vez mais ausente de quaisquer tipos de posicionamento dentro de um texto… Ô tarefa dificil!! Novos estudos de comunicação e linguistica é bem taxativa em afirmar que isto é impossível. Entretanto, ao me deparar com o linguista russo Michael Backthin, vejo há uma possibilidade de isenção, pois ele contrapõe o estruturalismo de Saussure e revoluciona este contexto, ou seja,… O meio não é a mensagem, pois ela já estava no receptor.

Que loucura, que da hora… Vejo em Backhtin esta possibilidade de nos desprender do papel do emissor e a possibilidade de uma “tentativa de isenção” de um texto, tornando-o imparcial, como o texto jornalístico deve ser. Dentro desta ideia, toda a fonte de um enunciado, um texto, uma imagem, uma matéria jornalística, vai ter sempre um pode ter um viés ideológico, mas não na tentativa de isenção do emissor, mas sim no receptor onde a mensagem já estava, apenas foi revelada por meio do texto.

O russo Mikhail Bakthin da escola marxista da linguagem é bem atual e reformula toda uma teoria da linguagem até então completamente dominada por Saussure e sua a teoria dos signos linguísticos, que estão numa relação diferencial e negativa entre si dentro do sistema de língua, pois um signo só adquire valor na medida em que não é um outro signo qualquer: um signo é aquilo que os outros signos não são. Para exemplificar isto, temos o famoso exemplo da “cadeira”, ao escrever este móvel, utilizo as letras (signos) e então vem o significado da cadeira na mente de cada pessoa e há ainda o significante que é a cadeira, o objeto em sí, que pode ser diferente do imaginado. Saussure passeia ainda por várias “praias” importantíssimas da linguagem, que não cabe aqui enumerá-las, principalmente na semiótica, mas quero ficar apenas no ponto da mensagem em sí.

Já Bakhtin surge como um renovo total, segundo ele, na linguagem, todos os enunciados são dialógicos. Ou seja, a palavra é sempre perpassada pela palavra do outro, de forma que quem constrói um discurso sempre leva em consideração outros discursos, que assim estarão, de uma forma ou de outra, presentes no seu discurso (BAKHTIN, 2000, p. 291).

Assim, todo enunciado reporta-se a outro (ou outros) enunciado(s). E a delimitação do que o autor russo define como enunciado é precisa, embora abrangente: “Todo enunciado – desde a breve réplica (monolexemática) até o romance ou o tratado científico – comporta um começo absoluto e um fim absoluto: antes de seu início, há os enunciados dos outros, depois de seu fim, há os enunciados-respostas dos outros (ainda que seja como uma compreensão responsiva ativa muda ou como um ato-resposta baseado em determinada compreensão) (BAKHTIN, 2000, p. 29.

Que da hora, que maravilha de pensamento, que nos direciona o discurso na voz do “outro”, talvez, em exemplo prático, podemos imaginar uma criança recém alfabetizada e vamos dar a ela um lindo livro “Assim falava Zaratustra” de Friedrich Niezsche. Com certeza, não haveria compreensão alguma, mesmo com todos os conhecimentos dos signos propostos por Saussure. Apenas um adulto com uma leve compreensão de filosofia, sociologia e com uma pequena experiência de vida, poderá compreender tal obra, pois a mensagem já estaria dentro dele, mas revelada pelo livro. Este é um dos motivos dos grandes clássicos serem adaptados para a criançada.

Há alguns anos, assisti a um seminário de comunicação com Luis Frias da Folha de São Paulo. Ele revelou em uma palestra que nos anos 70, o jornal O Estado de São Paulo, apoiava, de certa forma o regime militar. Segundo ele, um dos requisitos para a contratação de repórteres era o seu posicionamento político. Todos pensaram que os jornalistas tinham que ser apoiadores do governo, pelo contrário, a preferência era por jornalistas comunistas, principalmente se tiverem trabalhado no famoso jornal A VOZ, o jornal do Partido Comunista. Segundo Frias, isto foi revelado a ele pelos Mesquitas, família que administrava o “Estadão”, pois os repórteres tinham duas funções, ao mesmo tempo tinham que seguir uma linha editorial, mas por conta do seu posicionamento político antigoverno, tentavam ser isentos da notícia o máximo que podiam.

Cabe então a nós, ávidos leitores a nos posicionar perante os textos e fazer um debate quanto à fonte da mensagem, pois ela pode ser revelada de forma diferente dentro de cada um de nós. Temos que analisar as fontes antes de mais nada, para que a real mensagem possa ser revelada dentro de cada um, ou seja, fazer um diálogo real entre o emissor-receptor.




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