O pinto e a garrafa

Certo dia resolvi limpar um porão que existe em casa. Olhei para uma estante cheia de bugigangas e comecei a limpeza. De repente achei um caderno especial da morte de Jânio Quadros, quando era estudante não sei de que série; encartes dos ingressos do Rock in Rio II e da Legião Urbana, shows de rock e o mais curioso foi um livro velho “Para Gostar de Ler – Volume I”, que contém crônicas de Carlos Drumond de Andrade, Fernando Sabino, entre outros.

Comecei a ler alguns contos, como “O Pintinho” de Carlos Drummond, a história narra a celebração de um aniversário, no qual a decoração eram pintinhos sobre a mesa. Subitamente ouvi um barulho na rua, era o carro do garrafeiro, o cara dentro do veículo gritava com um alto falante: “Troco garrafas e panelas velhas por pintinhos”. Não acreditei na coincidência e fui até a rua, juntamente com a euforia das crianças, que desfalcavam a cozinha das mães em troca dos bichinhos. Quando cheguei no local, vi uma caixa lotada de pintinhos coloridos, eram verde, azul e amarelo. A meninada voltava para a casa com as aves piando nos braços.

Segui o filho do meu vizinho e eis que o bichinho estava sob tinta verde em cima do sofá e a criança tentava alimentá-lo com migalhas de pão. Vi que Drummond estava certo quando narrou em seu conto: “não virou galo, nem caiu na panela. No fim de três dias, piando e sentindo frio, o pinto morreu”. Voltei para casa e liguei a TV, e o noticiário dizia que o nosso presidente Lula quer fazer com que o Brasil, seja campeão em exportações na área da agricultura, de carne e de frango. Frango! Pensei: “olha o penoso aí novamente!”. O presidente estará certo, desde que os pintos cresçam, não sejam coloridos, nem trocados por garrafas ou virem enfeites de mesa, mas que sejam a razão de estarem à mesa para serem comidos.

Quem quer vai comprar!

Estes dias estava no ônibus indo para o centro de São Paulo, em determinado ponto, subiu um vendedor de chocolates e sem pedir licença, jogou o choquito no meu colo, assim como nos demais passageiros. Depois foi para frente do coletivo e discursou: “ Senhoras e senhores, sou um desempregado, e gostaria que me ajudassem adquirindo estas guloseimas por R$ 1,00”. Em seguida conseguiu vender 1 ou 2 chocolates e se mandou.

No ponto seguinte veio um vendedor de caneta, depois veio um cara que vendia biscoito, seguido por outro que estava vendendo revistinhas para crianças e logo na seqüência chegou um vendedor vestido de palhaço oferecendo balas. Depois disso pensei que estava realmente em um circo gratuito rumo ao centro. Teve passageiro que saiu com as mãos carregadas de canetas, balas, bombons...

Ao chegar no meu destino, comecei a andar pela rua 24 de Maio e os camelôs me ofereciam calças, meias, camisetas... Em seguida me dirigi até a avenida Ipiranga, lá tinha outros tipos de vendedores e me ofereciam serviços: “foto, foto, tire sua foto! Exame de vista, exame de vista! Na rua Santa Efigênia, é pior, lá não se pode nem andar no meio de tanta gente. Mas entrei na loja de informática e sem que ninguém me atendesse, fui direto ao balconista e pedi: “quero um pente de memória para computador. Paguei e vim embora.

Mal chego em casa, e a campanhia toca, vou atender e quem era? Um vendedor de filtro de água. “Muito obrigado, hoje não!”

O povo é rato

O rato é um bicho nojento que devemos combater, traz inúmeras doenças, mas a mídia e algumas empresas multinacionais talvez não pensem desta forma, pois existem vários personagens com o formato destes roedores. Talvez, exista uma comparação entre o "povo" proletariado com esses bichos que vivem à margem de todo o reino animal na visão humana. Nos desenhos animados existem inúmeros personagens como: Mickey Mouse, Ligeirinho, Super Mouse, Tom e "Jerry" , Bernardo e Bianca, Topo Gigio, Stwart Litle, entre outros.

Quem conhece o apresentador Roberto Carlos Massa?, ninguém, mas o seu apelido "ratinho" o transformou em um dos mais importantes homens do meio de comunicação brasileira.

A Folha de São de São Paulo já alguns anos tem como mascote um rato para vender anúncios classificados. O Banco Bradesco tem o "Chip", mais um ratinho simpático para agradar o gosto da população. Os ratos não só invadem a mídia, mas aparecem também em nomes de bandas musicais, e até mesmo marca de roupas.

Gostaria de saber por que nós nos identificamos com os "ratos". Talvez porque a população mais carente vive nos escombros, moram em lugares difíceis de se viver e a luta pela sobrevivência em busca do alimento e do bem estar social é intensa. Os ratos são sempre perseguidos e comparando com os seres humanos, a ratoeira da vida é o desemprego, fome miséria que nenhum político será capaz de resolver.

Avatar e suas mensagens

O filme de James Cameron Avatar talvez receba várias estatuetas do Oscar e com certa razão. Avatar não é um simples filme, pois é cheio de mensagens. A começar pelo personagem principal, Jake Sully, um cadeirante. Daí, o filme já aborda a inclusão social. Aborda ainda ecologia, espiritualidade, pró-atividades e liderança.

O filme trata os desafios da sociedade atual se livrar da ideologia “homem-dinheiro” e através de um roteiro envolvente e com efeitos especiais que entraram para a história, principalmente em 3D, faz com haja uma interação entre a tela e os espectadores.

No filme, o homem não é a vitima, mas sim o causador dos males quando invade Pandora, um planeta que aparentemente é povoado por um povo primitivo. Assim como na mitologia grega quando Pandora abre a caixa de Epimeteu e saem todos os males e, quando ela fecha, resta apenas a esperança.

No filme é igual, uma mulher nativa, se apaixona pelo avatar do humano Jake Sully, daí então começam os males naquele planeta, restando a esperança de um novo mundo. A mesma analogia bíblica de Eva eAdão, onde Eva dá a maçã ao homem.

Mas Avatar vai ainda mais longe quando trata da espiritualidade, pois há uma interação entre homem-natureza-sagrado. Sem falar em religião, Cameron trata do sagrado como uma forma permanente de contato com Deus, que é uma das razões da manutenção da espécie.

É um filme que, quando acaba, você tem preguiça de levantar da cadeira, mesmo após quase 3 horas de filme. E, quando nos levantamos, estamos mais leves.

Metallica: encantamento da música

Ainda em dezembro tinha duvidas se comprava ou não o ingresso para ver o show do Metallica em São Paulo. Tentei comprar para o sábado (30) sem sucesso, desisti. Depois pensei: “vou tentar de novo”. Desta vez para o show de domingo. Deu certo.

Estava em Minas Gerais e no sábado, dia do primeiro show, estava retornando a São Paulo, quando o ônibus para em Extrema (cidade do sul de Minas), lá dezenas de caravanas com centenas de jovens de todas as idades, estavam retornando a Minas depois de assistir a primeira apresentação da banda em São Paulo. “Foi emocionante” disse um fã encantado mesmo depois de horas após o show.

Ao chegar em Sampa, já me preparava para ver o espetáculo, meio preocupado com o clássico Corinthians e Palmeiras, então resolvo deixar o futebol de lado, afinal, domingo era dia de rock. Às 17h vou a casa do amigo Wilson, que também ia ao show junto com o filho Joe Hetfield (nome em homenagem ao volcalista do Metallica) que ia assistir a um show pela primeira vez. Saímos às 17h30 e chegamos no estádio do Morumbi às 18h10.

Às 19h entro no estádio e no mesmo momento sobe ao palco a banda Sepultura. Nesta hora caia uma garoa fina e o grupo manda bem. Em 40 minutos o Sepultura faz com que os aproximadamente 60 mil pessoas gritassem o nome da banda e ao final do show os refletores do Morumbi ficam acessos.

Logo em seguida os instrumentos da banda da noite começam a ser afinados e exatamente às 20h55 as luzes se apagam e no telão aparece a cena de um filme de faroeste.

Show – Logo na sequência do vídeo o espetáculo começa a encantar a todos,as imagens desaparecem e começam os riffs da primeira música "Crepping death"... Caracas! Teve gente que exclamou: “Já valeu o show”. Logo em seguida "Ride the Lightning" e "Fuel", depois "Sad but True" e "Unforgiven". Depois veio o pertado "That was Just your life", do album novo, seguida por "The End of the Line", também do disco novo. Para acalmar os ânimos tocaram “Welcome Home (Sanitarium)", depois a porrada “Cyanide” também do úiltimo CD. No final do show, o povo pedia "Seek and Destroy", que foi tocada no Bis. Memorável. Sem comentar as perfomaces dos quatro veteranos do rock.
Na saída do estádio, junto com Wilson e o Joe (que estava completamente estasiado) estávamos com um sorriso perto das orelhas, cometamos: PQP, valeu apena esperar. Eu ainda pensei: Se tivesse conseguido comprar o ingresso no sábado, voltaria no domingo, com certeza!

Veja o set list do show do dia 31
Creeping Death
Ride the Lightning
Fuel
Sad but True
Unforgiven
That was Just your Life
The End of the Line
Welcome Home (Sanitarium)
Cyanide
My Apocalypse
One
Master of Puppets
Fight Fire with Fire
Nothing Else Matters
Enter Sandman
Bis
Helpless (cover de Diamond Head)
Hit the Light
Seek & Destroy

Um pé sobre os escombros, caos e o entretenimento da informação

O mundo sempre esteve em desordem, desde que o mundo é mundo, ou virou mundo, ou desde o princípio, a terra sempre foi um caos. O desequilibrio acontece através de guerras, destruição da natureza e catástrofes naturais.


Se não bastasse isso o homem acelera todo este processo destruindo nossos bens naturiais em troca de valores, comércio, lucro e desencadeia as desigualdades sociais.

Todo este caos chega até nós através dos meios de comunicação e, nos programas de televisão os apelos comerciais às vezes são maiores que o próprio programa principal. O jornalismo mistura informação-entretenimento.

O excesso de desgraças alheias faz misturar a ficção com a realidade dentro da televisão. E aí parece até normal assistir o sofrimento do outro que é vitima do caos, como uma mãe que perdeu o filho baleado, ou um grupo de amigos que foram soterrados na virada do ano... Depois do jornal vem um filme, onde o policial, prende o bandido, o vilão. E lá estabelece a ordem do “caos fictício”.

No terremoto no Haiti um pé me chamou atenção. Apenas um pé o corpo estava soterrado. A pessoa não existia, apenas um pé de uma criança inerte naquela situação. Por dois dias esta imagem era reprisada, até que mostraram o resgate daquele pezinho que se transformou em uma menina de 11 anos. Neste momento sim, me emocionei, e percebi algo diferente na cobertura da catástrofe no Haiti. A comoção. Em meio as desgraças que assolam aquele país a regra da cobertura já é não ter regras, pois o caos, o desequilíbrio está em tudo.

Responder quem será o super herói para estabelecer a ordem naquele país, não sabemos, mas temos certeza de uma coisa: nesta hora é preciso união para tentar arrumar o caos.

às vezes eu...


Às vezes pego pesado













às vezes comemoro com amigos

Às vezes danço... anos 70.
 às vezes corro, de tudo e de todos...

às vezes... Criança

Eu não gosto do bom gosto

Bom gosto


Eu não gosto do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Eu não gosto de bons modos

Não gosto

Eu aguento até rigores

Eu não tenho pena dos traídos

Eu hospedo infratores e banidos

Eu respeito conveniências

Eu não ligo pra conchavos

Eu suporto aparências

Eu não gosto de maus tratos

Mas o que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Eu não gosto de bons modos

Não gosto

Eu aguento até os modernos

E seus segundos cadernos

Eu aguento até os caretas

E suas verdades perfeitas

O que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Eu não gosto de bons modos

Não gosto

Eu aguento até as estrelas

Eu não julgo a competência

Eu não ligo para etiqueta

Eu aplaudo rebeldias

Eu respeito tiranias

Eu compreendo piedades

Eu não condeno mentiras

Eu não condeno vaidades

O que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto do bom senso

Eu não gosto de bons modos

Não gosto

Eu gosto dos que têm fome

Dos que morrem de vontade

Dos que secam de desejo

Dos que ardem…

Ainda moro no mesmo lugar. Na Santo Afonso.



Sim. É o que respondo quando me perguntam onde moro. Ainda é o mesmo lugar, desde os tempos de criancinha (foi ontem!), quando jogava bola descalço no asfalto novo. As meninas com pedaço de tijolo baianinho faziam aquelas amarelinhas e de vez em quando tentávamos ir do céu ao inferno. Passava quase nenhum carro, pois quase ninguém tinha. Os poucos eram demorados, e como é descida, sempre um de nós ficávamos atrás do gol para pegar a bola e de vez em quando avisar os times que vinha carro, ou quando passava alguma mulher com criança no colo. Conhecia todo mundo, ficava o dia inteiro na rua. Só entrava em casa para almoçar ou jantar.
Hoje perdi a paciência. Ao chegar na Rua Santo Afonso, fiquei 15 minutos presos em um trânsito daqueles. Mas daqueles mesmos de ficar nervoso, pois ali, até dias atrás, a rua mal aparecia no mapa, e agora ela foi promovida: é avenida.
Devido ao movimento, muitas casas, cederam espaço ao comércio. Com isso, muitos amigos deixaram o local. Agora, em menos de 100 metros, a rua, ops! Avenida gora tem: duas padarias, dois açougues, três supermercados, nove salões de beleza, duas bicicletarias, duas casas do norte, um mini-shopping, uma granja, duas perfumarias, uma farmácia, um restaurante, um bazar, duas mercearias, um ferro-velho, um depósito de material de construção, uma escola municipal, uma creche, uma casa de apostas (jogo do bicho), uma igreja católica ( a mais antiga e fundadora do bairro) e seis igrejas pentecostais e ainda 17 botecos.
Futebol na rua não existe mais; as pessoas que transitam pela rua também já não conheço mais. Agora, a Santo Afonso é destaque no Google mapas. Ela cresceu. E, todos os moradores diminuíram, assim como as crianças que já não brincam mais descalças no asfalto velho, cheios de buracos. Mas é lá. Ainda moro no mesmo lugar. Sim.