Estátua isolada
Uma bela estátua no Vale do Anhagabaú, isolada, triste e sem olhares, quando a olhei percebi sua beleza e a contemplei por minutos.
Proposta para nova camisa da seleção
A CBF não é uma entidade confiável depois de tantos escândalos recentes. Na última manifestação o povo vestiu um a camisa amarela que seria da seleção brasileira, mas na verdade é da CBF. Fiz uma brincadeira com esta camisa, e se trocássemos o simbolo da CBF pelo brasão brasileiro? Não ficaria mais bonita? A CBF apenas organiza a seleção, mas não precisamos vestir a camisa desta entidade.
Singelamente
Foi bem assim, devagar,
entende? Eu estava andando pela Avenida Cupecê, lá na Cidade Ademar,
quando eu
a vi entrando na igreja. Ela estava toda nua e estava sozinha. Era uma morena
de aproximadamente 1.70 de altura com os cabelos cacheados e cumpridos até a
cintura. Pensei até que fosse pegadinha ou propaganda de televisão. Dois dias
depois descobri que o Carlos a conhecia, e ele me disse que o nome dela era Penélope.
Achei estranho, pois nunca conheci ninguém com o nome de Penélope, a não ser a
do desenho animado. Contei o fato ao Renato, e, de imediato ele desmentiu o
Carlos e disse que esta menina estudava no Leonor Quadros, uma escola pública
da Cidade Ademar, e que o nome verdadeiro dela era Amélia e que estava muito deprimida
por ter acabado o seu casamento. Semanas se passaram e eu encontrei a Suzi, e
sem querer ela tocou no assunto da mina que entrou nua na igreja. Ela disse que
conhecia a irmã dela, e disse que tinha ficado louca depois de um acidente de
carro na Avenida 23 de maio. Suzi disse que a mina se chama Ester, em homenagem
a mulher da bíblia, já que seus pais eram evangélicos e depois disto nunca mais
ouviu falar dela e, que a última vez que a viu foi neste vídeo que viralizou
na internet. Não falei a ninguém que a tinha visto, apenas fiquei curioso, e
descobri que ela tinha três nomes, ou três histórias diferentes de quem
supostamente a conhecia. Foi aí que resolvi tirar esta história a limpo. Fui até a
igreja e ao adentrar logo na porta, uma morena muito simpática sorriu e me deu
um jornal junto com um papel com uma mensagem bíblica. Reconheci aquele rosto
singelo das semanas anteriores, um olhar profundo que enaltecia sua bochecha
rosada, um vestido justo e delicadamente comportado junto a um lenço que cobria
seus cabelos cacheados. Sem palavras agradeci o jornal e o pequeno panfleto e
me senti completamente nu, e renovado ao vê-la daquele jeito, vestida. Não contive a
curiosidade e perguntei: “Qual é o seu nome? Um breve olhar foi a resposta
completada pelas palavras singelas. “Não preciso de nome, só preciso ser”, disse sorrindo. Agradeci e fui embora.Álbum de fotografias, memórias, facebook e a felicidade falsa
Lembro de uma aula do
professor de história Ivanir, na antiga 6ª série, pois ele nos mostrou uma foto
em nosso livro, que se tratava de uma imagem pré-histórica desenhada pelos
homens de cro magnon há milhares de
anos. A imagem era de vários homens caçando e no centro do desenho tinha um
animal que seria a caça, e o professor nos explicou que aquele registro era
importante para a nossa história pois retratava um modo de vida daquele povo,
pois a caça, era um evento social importantíssimo para a cultura e também para
a sobrevivência do grupo, pois a identidade não era individual, mas sim
coletiva, por isto as imagens geralmente eram de pessoas em grupo.
Aquela aula ficou marcada até
hoje, pois a nossa identidade é o que nos move dentro desta sociedade em que
vivemos, e nos tempos atuais ela é múltipla, como explica Stuart Hall, em seu
livro “A identidade cultural na pós modernidade”. Diante desta multiplicidade
de identidades que possuímos, algo me incomodou muito nos últimos tempos com a
declaração do renomado filósofo Leandro Karnal. Ele afirmou em uma palestra,
aliás, orientou a todos “a pararem de postar felicidade falsa no facebook”, e
isto foi compartilhado por milhares de pessoas, do próprio facebook, como uma
afirmação “feliz”, basta saber, se era do filósofo, ou da “felicidade falsa” de
quem compartilhava deste pensamento.
Quem sou eu para entrar em um
debate com Leandro Karnal, assistir ao seu vídeo no youtube que alguém
intitulou: “Para de postar felicidade falsa no facebook”, me incomodou muito.
Isto porque, ele fala de vários assuntos, citando Hamlet, O príncipe, entre
outros escritores, e no final solta esta frase polêmica, que eu ouso a
discordar do filósofo, pois o papel das redes sociais é exatamente este: postar
a felicidade, mesmo que seja uma felicidade idealizada, pois ela é a
possibilidade da construção de uma felicidade real, como a imagem dos desenhos
do homem das cavernas, afinal, nem todas as caçadas tinham sucesso, mas eram
idealizadas.
No passado, os álbuns de
fotografias, das nossas mães e avós, eram compartilhados apenas por parentes, e
entes mais íntimos da família, pois as pessoas sentavam na sala, em um café ou
lanche da tarde e ficavam ali, folheando as memórias “felizes” do passado.
Hoje, a felicidade é no presente, e constitui um novo conceito do homem moderno
com as tecnologias em tempo real.
Vários pensadores, filósofos,
escritores afirmam que, quanto mais nos conhecemos, mais devemos nos
entristecer, como Fernando Pessoa em seu Livro do Desassossego, ele faz as
seguintes afirmações: “...Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao
que amo...” “... Parece-me que sonho cada vez mais longe, que cada vez mais
sonho o vago, o impreciso, o invisionável. ” “...Quanto mais me vejo rodeado,
mais me isolo e entristeço...”
Temos então que concordar com
tais pensamentos? Eu não posso me conhecer profundamente e me sentir feliz com
possíveis mudanças? Pelo filósofo e alguns pensadores não. Podemos citar também
Aristóteles, que ao passar por uma feira em Atenas e ao ver tantas coisas desnecessárias
sendo vendidas, falou que o homem não precisaria de nada daquilo para viver, em
outras palavras, não precisava de “coisas” materiais para serem felizes.
É claro que sabemos disto.
Temos plena consciência, ou deveríamos ter, que a felicidade real é a que nasce
dentro de cada indivíduo, dentro de um ambiente social adequado. O antropólogo
Roberto da Matta em sua obra “A casa, a rua e o trabalho”, é um retrato desta múltipla
identidade, pois o bem-estar social deve estar em harmonia nestes ambientes,
assim como o seu bem-estar pessoal-sentimental. Hoje as redes sociais é um novo
ambiente a ser estudado e analisado profundamente, e enquanto isto não
acontece, ignoremos o conselho de Leandro Karnal, pois continuaremos a postar a
nossa felicidade no facebook, mesmo que idealizada, afinal, há um verbo que não
foi analisado pelo filósofo: compartilhar, pois esta palavra tem um novo
contexto, em um novo tempo, mas Karnal não tem redes sociais, seria ele então
feliz, ou triste porque conhece a si mesmo.
Cocteau Twins e o lirismo de Treasure
O grupo inglês Cocteau Twins foi
um fenômeno na Inglaterra nos anos 80 e a cena alternativa mundial, o que veio
a se chamar “indie” nos dias de hoje. Eles nunca foram do tipo de banda que
enchia estádios ou preenchia os tempos livres da MTV e também nunca venderam
milhões de álbuns. Em vez disso, era uma banda conceitual no sentido real da
palavra, tinha um estilo próprio com uma identidade ímpar da vocalista
Elisabeth Fraser, que, com suas nuances vocais, fazia calmamente uma mudança
fundamental na percepção, exercendo uma influência do lírico, com as nuances de
guitarras, às vezes distorcidas, que era uma novidade para a sua época.
O grupo esteve junto durante 15
anos e acabou em meados de 1998, mas deixou um legado ímpar para seus fãs ao
redor do mundo. Tive a oportunidade de vê-los no Brasil nos anos 90 no Projeto
SP, na turnê do álbum Heaven or Las Vegas (1990). Foram vários álbuns
marcantes, mas gostaria de destacar um em especial, o Treasure (1984). Um
clássico. Para os amantes da boa música, não importa, o estilo, este álbum
agrada a todos. Não é um disco pop, é um álbum de música no real sentido da
palavra. Os músicos sempre rejeitaram este álbum, alegando que foi gravado às
pressas, mas a imprensa e os fãs foram ao delírio, e consideram o melhor
trabalho da banda, pois é o mais vendido.
Deixo aqui o link para este álbum
obrigatório na discografia de qualquer um.
A mãe que comeu o filho
Texto e arte do livro "Crônicas e contos" de Sérgios Pires a ser lançada em 2016 |
É impossível uma
pessoa morrer de fome no mundo, não consigo ter esta concepção, porém isto acontece, e o pior, ignoramos. Uma publicação cientifica, inglesa The Lancet,
um veículo de fama internacional que, publicou um relatório, há quatro anos,
afirmando que mais de 3 milhões de crianças morreram de subnutrição em 2011. É muito
triste e temos que fazer uma reflexão séria, sobre o meio ambiente, consumo e
também solidariedade.
Todos os programas
governamentais atuais, começaram a partir do Fome Zero, pois a intenção de
acabar com a fome do governo brasileiro é legítima, apesar de ter várias
críticas.
Todos sabemos que o
melhor não é dar o peixe, mas sim, ensinar a população a pescar. Infelizmente,
muitos se esquecem, que para ir à pesca, são necessários utensílios que o povo
não tem. E a população faminta só tem a vontade, mas não tem material para a
batalha. É claro que sempre tem alguns que tiram vantagens e aproveitam da
situação deixando de fora quem realmente precisa.
Hoje, com os
refugiados da Síria, das pessoas que ainda estão lá, sofrendo, assim como
dezenas de países que estão em conflitos, milhares de pessoas estão morrendo,
não só de balas e bombas, mas de fome.
Há cerca de quatro mil
anos, o povo de Samaria em Israel passava por grandes dificuldades por causa da
seca e pela fome que assolava a região. O rei andava a cavalo pela região,
quando ouviu a seguinte reclamação de duas mulheres que o interpelaram:
"Esta mulher disse, dá o teu filho, para que hoje o comamos e amanhã
comeremos o meu. Então cozemos o meu filho e no dia seguinte, eu disse: Dá o
teu filho para que o comamos, e ela o escondeu. Ouvindo isso o rei
(envergonhado) rasgou suas vestes e se vestiu de pano de saco" (2 Reis -
6:28,29,30) Mas tarde Deus proveria suprimentos na entrada desta cidade com
farinha e cevada para saciar a fome do povo.
Estamos assistindo
cenas horríveis de violência no mundo, não irei me espantar quando os seres
humanos começarem a se transformar em canibais para sobreviver. Até o momento o
antropofagismo é social, mas as roupas de saco quem veste no Brasil e em todo o
mundo, não são os governantes, como em Samaria, mas sim o povo, que
envergonhado assiste as pessoas morrerem de fome e tentamos esconder a nossa
nudez, pois estamos parados e anestesiados vendo os fatos acontecerem sem agir.
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