O Rock nunca chegou na periferia, e quando foi, chegou por meio de “recado”


Em entrevista no início deste ano, o cantor-ator Seu Jorge deu uma declaração polêmica, dizendo que o rock não é um gênero para o negro, pois nunca foi à periferia. Ele foi na veia e direto, em um comentário para seu novo disco Músicas Para Churrasco Volume II. A mídia caiu em cima e sua afirmação foi criticada em todas as redes sociais. 

Esta semana me deparo com um excelente texto do jornalista André Forastieri “Porque os jovens brasileiros não gostam mais de rock (em uma frase bem longa), afirmando que o rock brasileiro foi e é oriundo da classe média brasileira, e novamente chamou atenção de muitos internautas por aí. O fato é: os dois estão absolutamente corretos.

Nos anos 70, 80 e mesmo nos anos 90, até os dias atuais, o rock nunca foi um gênero da periferia. Quando chegou foi por meio de alguns grupos específicos como os “punks” ou algumas “tribos” ou galera que curtiam “heavy metal”. É claro que há exceções, como eu, pessoas que moravam na periferia, mas tinham acesso à informação, por meio de revistas especializadas, etc.

Na periferia chegou o funk (o original), o samba, o rap, tinha em cada esquina e sempre aconteciam os bailes funk que eram organizados em alguma casa na periferia, assim como as rodas de samba, que acontecem até hoje nos botecos. Isso não quer dizer que na periferia não se ouvia-se rock, ouvia-se sim, mas muito restrito. Em um universo de um bairro de mais de 350 mil habitantes como o da Cidade Ademar, bairro em que moro, poucas pessoas gostam deste gênero. 

Hoje a música da vez é o funk ostentação, nada a ver com aquele do passado. Como o Forastieri disse “...porque teen precocemente senil, banguela e broxa, e fogem para onde está a ação, seja em movimentos como o Occupy, no rap mal-encarado e no funk boca-suja, correndo atrás do dindin ou simplesmente boquejando infinitamente nas redes sociais...”

Banda de rock, aliás o rock em si, nunca foi tão pop, nunca foi tão “água com açúcar” em suas letras ou em sua manifestação. Ao assistirmos as bandas que aparecem no circuito nacional ou as que se apresentam em programas de televisão, vemos apenas um apelo comercial e o discurso tão decorado que parecem até de jogadores de futebol.

Na periferia, nunca os vi fazer shows em praças, festivais, etc. As bandas querem mesmo é aparecerem para seu público perfeito, tipo Ed Motta nos Estados Unidos e seu público seleto, não pode ser qualquer um, por isto, tem que ser “indie”, e ouvir e frequentar todos os mesmos espaços que estas pessoas frequentam.


Enfim, o rock brasileiro envelheceu e está em crise, mas ainda temos talento; mas não temos espaço para tocar; temos a internet para divulgar; mas não temos interesse em ouvir; temos algumas escolas e professores antenados em aula de arte e música para incentivar festivais escolares; mas não temos alunos e diretores das mesmas interessados... Estes dias recebi um recado: “Vai ter um show de rock no centro na semana que vem”... Pois é, o rock quando chega à periferia vem por meio de recado. 

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