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Gosto e desgosto!

 



O que eu não gostava no passado, hoje gosto e o que eu gostava hoje não gosto. Nossos gostos são tão estranhos, assim como as nossas escolhas, do que gostar ou não. Quando criança por algum fato ou evento qualquer, decidimos gostar de algo, pelos nossos sentidos, e com o passar do tempo vamos mudando de ideia, experimentando as sensações que antes não gostávamos.

O mais estranho disto tudo é o desgostar, não é o “não gostar”. Isto pode acontecer por vários motivos e razões, pode ser desde algo comestível, até mesmo um estilo musical, um local que frequentava, ou até mesmo algo mais sério como um trabalho, emprego ou até mesmo uma pessoa.

A cantora Adriana Calcanhoto em sua música “Senhas”, diz: “O que eu não gosto é do bom gosto; eu não gosto de bom senso; eu não gosto dos bons modos; não gosto”. Em sua música ela não diz o que gosta, apenas o que “não gosta”, o resto ela “atura”. E esta, é um verbo interessante “aturar”. Isto não quer dizer que gostamos de algo, apenas “aguentamos”, ou seja, sobrevivemos com aquilo que não gostamos, mas não há aqui o “desgosto” em si.

Mas para fechar este pequeno texto, quanto mais experiente ficamos, mas decepcionado com certas situações ficamos. Daí vem o termo “desgostoso”. O que antes era bom, hoje já não é mais, assim como o futebol, a música, a política, a economia do país, a política educacional... O mais triste é quando ficamos desgostosos com pessoas, por conta de desvio de caráter.

O pinto e a garrafa

Estes dias, durante esta quarentena, resolvi limpar um porão que existe em casa. Olhei para uma estante cheia de bugiganga e comecei a limpeza. De repente achei um caderno especial da morte de Jânio Quadros, quando era estudante não sei de que série; encartes dos ingressos do Rock in Rio e da Legião Urbana e o mais curioso foi um livro velho “Para Gostar de Ler – Volume I”, que contém crônicas de Carlos Drumond de Andrade, Fernando Sabino, entre outros.

 Comecei a ler alguns contos, como “O Pintinho” de Carlos Drummond. A história narra a celebração de um aniversário, no qual a decoração eram pintinhos sobre a mesa. Subitamente ouvi um barulho na rua, era o carro do garrafeiro, o cara dentro do veículo gritava com um alto falante: “Troco garrafas e panelas velhas por pintinhos”. Não acreditei que isto poderia acontecer em plena pandemia. E pensei: "Que coincidência!" E resolvi ir até a rua, juntamente com a euforia de algumas mães acompanhadas de suas crianças, que desfalcavam a cozinha em troca dos bichinhos. 

Ao abrir o portão, o veículo estava em frente de casa e deu para ver uma caixa lotada de pintinhos coloridos, eram verde, azul e amarelo. A meninada voltava com suas mães para a casa com as aves piando nos braços.

Depois desta cena, vi que Drummond estava certo quando narrou em seu conto: “não virou galo, nem caiu na panela. No fim de três dias, piando e sentindo frio, o pinto morreu”. 

Voltei para casa e liguei a TV, e o noticiário dizia que o Brasil, será campeão em exportações na área da agricultura, de carne e de frango. Frango! Pensei: “olha o penoso aí novamente!”. 

Mas isto só vai acontecer, desde que os pintos cresçam, não sejam coloridos, nem trocados por garrafas ou virem enfeites de mesa, mas que sejam a razão de estarem à mesa para serem comidos.

 



 


Fóssil de cabeça oca e o Lifafil



Li estes dias no jornal que os cientistas norte-americanos descobriram por acaso, a identificação de uma nova espécie de dinossauro que tem a cabeça oca. Os cientistas da Universidade da Pensilvânia deram o nome de Suuwassea. Que coisa importante não? Acho que demoraram muito para descobrir animais com estas características, eu mesmo conheço várias cabeças ocas e não sou nenhum cientista.

Aliás, os seres humanos, apesar do encéfalo, possuem um vazio na cabeça, talvez herdado lá, há bilhões de anos pelo tal Suuwassea. Os “cabeças ocas” contagiam toda a sociedade, desde o cara que joga sujeira nas ruas, até os homens que estão no poder, que reajustam os combustíveis, dão um aumento de apenas R$ 20 no salário mínimo ou reajustam o salário do servidor público em 0,1%.

Mas, ânimo! Ainda há os seres pensantes como os cientistas tupiniquins que estão criando o “Viagra” brasileiro. Os pesquisadores da Universidade de São Paulo estão desenvolvendo o medicamento com o mesmo princípio ativo dos remédios já existentes no mercado contra a “disfunção erétil”, ou seja, a famosa “brochada”.

 O nome está em fase de estudo, mas deverá se chamar Lifafil. Agora, os voluntários que façam fila para experimentar o tal lifafil, e quem o tomar terá certeza absoluta que não ficará com a cabeça oca.

Não há vagas



Recentemente uma aluna em sala de aula me entregou uma poesia intitulada: “Não há vagas”. Desanimada com a falta de oportunidades no mercado de trabalho, fez uma dura critica social em relação às políticas públicas e a falta de oportunidades para quem está ingressando no mercado de trabalho.

Esta poesia me fez refletir profundamente e fiquei incomodado quando passo nas ruas das periferias e vejo dezenas de jovens dentro de bares jogando bilhar durante o dia. Muitos deles concluíram o Ensino Médio e não tiveram condições de ingressarem em uma faculdade e também não conseguiram o tão desejado primeiro emprego. Já outros desistiram de estudar e apenas passam o tempo nestes bares ou nos novos “points” que são os salões de cabeleireiros ou as novas barbearias que se espalham pelos bairros.

Na verdade, há um exército gigantesco de jovens  que poderiam estar exercendo uma atividade, mas estão sendo ignorados pelo Poder Público. Não apenas os jovens, mas muitos que perderam seus empregos nos últimos anos e, que, infelizmente estão sendo ignorados por conta de suas baixas qualificações profissionais e também pelos novos paradigmas dentro do Mercado de Trabalho, onde muitas profissões deixaram de existir e as pessoas já não se enquadram nestes novos postos.

Por conta deste problema grave que estamos vivendo, começam a se propagarem campanhas em prol do “empreendedorismo”, se não há vagas, então “crie a sua”. Programas na televisão abordam constantemente este tema e sempre mostram os casos de sucesso, mas se esquecem que de cada 10 novas empresas, apenas uma sobrevive neste novo cenário do tal Mercado e as outras nove terão seus nomes negativados e com enormes dividas a serem pagas. 

A classe média adora o bordão e as novas empresas agora levam o nome de “Start Up”. Mas na verdade, as pessoas continuarão a ficar desempregadas e a enviar seus currículos... Mas infelizmente “não há vagas”.